O clínico detetou incongruências nos registos do paciente e recusou-se a renovar a baixa. O utente respondeu com agressões durante dez minutos. Este é o segundo caso de violência contra profissionais de saúde em menos de uma semana.
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Um médico foi agredido a soco e pontapé por um paciente no Centro de Saúde de Moscavide, em Loures. A agressão aconteceu na sequência de o clínico de medicina geral ter encontrado informações incoerentes na ficha do doente, pelo que se recusou a renovar a baixa.
Este é um novo caso de agressão a médicos, revelado esta quinta-feira pelo Jornal de Notícias . A demonstração de violência ocorreu há dois dias, às 15 horas de terça-feira, e terá durado dez minutos. O médico, Vítor Manuel Silva Santos, ouvido pela publicação JN, diz ter tido muitas dificuldades em sair do consultório para pedir ajuda.
"Pretendia que lhe desse uma vacina para a gripe (porque um primo tinha feito a vacina), e lhe passasse uma renovação da baixa, retroativa a 26/12/2019", relatou no Facebook, sobre o utente de 20 anos.
Na verificação da ficha do paciente, o clínico detetou que este tinha estado noutro centro de saúde dias antes, mas que se tinha escusado a aviar os medicamentos que lhe tinham sido prescritos, situação que se repetia desde 2018.
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"Como não acedi ao que desejava, começou por pegar no teclado do computador e atirá-lo contra a secretária, partindo-o", contou o médico. Depois de ter danificado o material, fez o mesmo ao telefone. Vítor Manuel Silva Santos reportou que se seguiram as agressões, com o auxílio da namorada do paciente. "Com a ajuda da namorada, que me segurava, agrediu-me com vários socos e pontapés, um dos socos no olho direito e um pontapé na grelha costal."
O Jornal de Notícias dá ainda conta de que o Ministério da Saúde, alertado sobre este novo caso, está consciente da "necessidade de melhorar o perfil da segurança dos profissionais de saúde".
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Depois das agressões a uma médica no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, este é o segundo caso de violência contra médicos em menos de uma semana.
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"O que é que pretende fazer, senhora ministra?"
Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, não está satisfeito com a falta de uma tomada de posição mais clara por parte de Marta Temido. Neste sentido, promete enviar ainda esta quinta-feira um pedido de esclarecimentos à ministra da Saúde. "Ainda hoje vamos enviar uma pergunta simples: 'o que é que pretende fazer?'"
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"Para nós não basta um comunicado a dizer genericamente que está solidária com os profissionais de saúde, quando já tinha sido agredida uma médica, desta vez, em Setúbal", posiciona-se Roque da Cunha, ouvido pela TSF. "Nós exigimos saber o que é que o Ministério da Saúde pretende fazer sobre esta matéria. É uma pergunta muito simples que ainda hoje faremos chegar ao gabinete da senhora ministra."
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Na perspetiva de Roque da Cunha, deverão ser repensadas "questões da própria disposição dos gabinetes, a formação por parte do Ministério da Saúde junto dos seus profissionais para que mecanismos de gestão de conflitos sejam desenvolvidos, a criação de condições para que haja sanções aos infratores".
Trata-se, assim, de "criar condições para que não haja sentimento de impunidade", já que, por exemplo, "em Setúbal, a agressora foi simplesmente identificada; não foi presente a um juiz".
Já Noel Carrilho, presidente da Federação Nacional dos Médicos, nota que é urgente avançar com uma resposta abrangente para travar a violência, sobretudo em locais em que as tensões podem verificar-se.
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"O gesto de prevenção essencial é dotar o Serviço Nacional de Saúde dos meios para que os doentes possam ser assistidos em bom tempo. Esse é normalmente o problema que está na origem destes casos", analisa. "Embora não o justifique, tem que ver com utentes que não são atendidos atempadamente."
Para Noel Carrilho, "as próprias condições de trabalho, em alguns locais de grande risco, já que não há segurança, quanto mais policiamento, que seria o mais indicado para sítios potenciais de conflito, como as urgências, por exemplo", são fatores que aumentam o risco de expor profissionais de saúde a este tipo de ocorrências.
* Atualizado às 11h26