Sem Serviço Nacional de Saúde vivia-se sem médico de família e com recurso à medicina popular.
Corpo do artigo
A saúde sempre foi um bem escasso no interior português e, muito mais era, em meados do século passado em muitas localidades transmontanas. A TSF foi até à aldeia de França, no concelho de Bragança e ouviu o relato de como se vivia sem médico e com era difícil, às vezes impossível, recorrer aos serviços de saúde.
É na esplanada, em frente ao café, no meio da ponte da aldeia de França que Maria da Assunção Prada conta à TSF como era a ida ao médico na década de 50 do século passado. "Olhe, ali no cabo da ponte, o médico virava ali à esquerda, há ali uma casa de pedra e o médico ia ali consultar as pessoas".
TSF\audio\2020\09\noticias\15\15_setembro_afonso_de_sousa_medico_do_seculo_passado
Maria Prada diz que ia "uma a duas vezes por mês, auscultava, receitava e pouco mais porque tinha que ver muita gente e muitos deixavam os trabalhos no campo para vir ao médico".
Era uma verdadeira "visita de médico" e só havia duas razões válidas para recorrer a ele "só se ia já na última ou quando era para apanhar alguma reforma".
Com 84 anos feitos o mês passado, a dona Maria ainda se lembra de quando nem ali havia médico. Numa aflição tinham de ir a Bragança a mais de 15 quilómetros. " Iam a cavalo num burro, carros não havia e às vezes, a pé!"
12723588
Porque não havia outro meio de locomoção, ou melhor, havia mas era o cavalo do padre acrescenta a octogenária com um humor genuíno e requintado. "Cavalo só o padre é que tinha e não o emprestava a ninguém (risos)".
Mas quando tinha de ser, tinha de ser, mesmo não havendo dinheiro para pagar ao médico. "Telefonava-se para Bragança e o médico vinha a casa. Às vezes não se tinha dinheiro para lhe pagar e tinha que se ir pedir ao vizinho".
E quando o médico não vinha a medicina popular fazia o que podia pelo paciente. "Chás bebiam-se chás para isto e para aquilo e punham-se umas pomadas, de resto o que é que havíamos de fazer".
E entregavam-se a Deus. Depois morriam ou viviam conforme a hora que o destino marcasse.
12724011