Ordem dos Médicos cria comissão para avaliar o que se passa em lar de Reguengos de Monsaraz

Orlando Almeida/Global Imagens
Segundo a Ordem dos Médicos, "o caso merece uma participação ao Ministério Público".
Corpo do artigo
A Ordem dos Médicos apelou este sábado para que a nível judicial se possa considerar "uma ação urgente" para defesa das pessoas doentes, no caso do surto de covid-19 num lar de idosos em Reguengos de Monsaraz (Évora). O bastonário da Ordem dos médicos confirmou este domingo à TSF a criação de uma comissão de inquérito para avaliar o que se passa no lar em Reguengos de Monsaraz.
Miguel Guimarães adianta que a comissão está formada e vai começar a trabalhar já amanhã.
TSF\audio\2020\07\noticias\12\miguel_guimaraes_1_comissao_avaliadora_10h
A Ordem critica a ARS do Alentejo e avisa que está em causa a saúde dos utentes.
Em comunicado, a Ordem do Médicos defendeu uma ação judicial "conducente a intimação" para "defesa dos direitos, liberdades e garantias das pessoas doentes" no lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva.
Segundo a organização representativa, "o caso merece uma participação ao Ministério Público", e dada a sua "gravidade excecional", decidiu designar uma comissão de inquérito para "avaliar todas as circunstâncias clínicas relacionadas com esta situação".
"A Ordem dos Médicos deixa um alerta aos familiares dos utentes no sentido de poderem agir judicialmente, caso as entidades competentes não reconheçam a necessidade premente de respeitar as orientações e normas da Direção-Geral da Saúde (DGS) e assim determinarem a transferência dos utentes para uma Área Dedicada Covid (ADC-SU) a fim de serem devidamente triados e colocados numa enfermaria com condições adequadas ao seu estado de saúde, caso necessário", referiu a nota.
O documento indicou ainda que "este caso merece uma participação formal dos factos ao Ministério Público (que, de resto, já está no terreno), o que irá acontecer, para que este apure da eventual responsabilidade criminal em face do relato feito pelos médicos que prestaram serviço no lar" ou "pavilhão para onde foram transferidos os utentes infetados do lar".
"As decisões que têm sido tomadas no caso do lar de idosos (...) de Reguengos de Monsaraz não aparentam ser as mais corretas e, a nosso ver, colocam em causa a saúde dos utentes, como parece estar a acontecer", acrescentou a nota.
Os relatos que têm sido recebidos pela Ordem dos Médicos "continuam a fazer temer pelo pior", adiantou a nota, salientando que "basta de incompetência".
A Ordem referiu ainda que tem como uma das suas atribuições "contribuir para a defesa da saúde dos cidadãos e dos direitos dos doentes".
"No caso de Reguengos de Monsaraz é por demais evidente que os direitos dos doentes e a saúde dos cidadãos estão postos em causa. Esta situação já foi denunciada nos órgãos de comunicação social, nomeadamente pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e pela Ordem dos Médicos", frisou o comunicado.
"Na ausência de uma resposta eficaz das autoridades competentes a nível regional, a Ordem dos Médicos vem interpelar a Autoridade de Saúde Nacional (DGS, na pessoa da sua diretora-geral) no sentido de esta fazer cumprir ou dar cumprimento às orientações e normas que emitiu, e também a tutela, ou seja, o Ministério da Saúde, responsável último por fazer assegurar o direito constitucional à saúde", vincou.
Em comunicado enviado às redações, a Administração Regional de Saúde garante que "fez e continuará, dentro do quadro legal, a fazer o possível para garantir os cuidados considerados necessários, no espaço que foi atribuído aos utentes da Estrutura Residencial para Idosos (ERPI), da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, que necessitam de vigilância, mas que não têm critérios para internamento hospitalar"
A ARS Alentejo adianta que "estará sempre atenta às necessidades de prestação de cuidados identificadas na região, tomando as medidas que estiverem na sua dependência, para garantir sempre os direitos da população que serve".
Por outro lado, a Ordem indicou que "interpela igualmente" a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social sobre "as condições de segurança e cumprimento das normas legais em vigor às quais o referido lar está abrangido e do seu cumprimento".
Com a situação no lar, o concelho de Reguengos de Monsaraz regista o maior surto no Alentejo da doença provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.
Portugal contabiliza pelo menos 1.654 mortos associados à covid-19 em 46.221 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 561 mil mortos e infetou mais de 12,58 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.