Médicos da Pediatria de Leiria exigem fecho da urgência à noite e do bloco de partos
A equipa médica do serviço de Pediatria do CHL exige o encerramento da urgência pediátrica "a todas as admissões externas".
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Médicos da Pediatria do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) exigem o fecho da urgência pediátrica no período noturno e do bloco de partos, e pedem que não seja aceite a atividade obstétrica do Hospital de Caldas da Rainha.
Num abaixo-assinado ao qual a agência Lusa teve acesso esta terça-feira, a equipa médica do serviço de Pediatria do CHL exige, quando nos turnos haja indisponibilidade de elementos para escala e fique apenas um pediatra, o encerramento da urgência pediátrica "a todas as admissões externas", a partir das 20:00, "de forma a garantir os cuidados adequados e em condições de segurança para os doentes internados".
Os médicos pedem ainda o fecho do bloco de partos, dado "não ser possível assegurar a assistência aos partos distócicos ou a qualquer emergência de reanimação neonatal", defendendo que "todas as grávidas com condições de transferência" devem ir para outras unidades hospitalares.
Em ambas as situações, os 30 subscritores consideram fundamental que o CHL "informe atempadamente a Saúde 24, o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes], os cuidados de saúde primários, hospitais em redor (nomeadamente de Alcobaça e Pombal) e a população".
Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, acaba de explicar à TSF as alternativas que se colocam agora às grávidas.
"As grávidas terão de ser dirigidas para já débil situação que ocorre em Lisboa e Vale do Tejo ou para Coimbra, porque estes pediatras, além das competências que têm de ter e responsabilidades na área dos doentes que estão internados, chamada urgência interna, e urgência externa, aquilo que está aberto ao público, têm de garantir também o acompanhamento do berçário, de garantir o acompanhamento das crianças, têm os cuidados intermédios, pediátricos também nesse hospital e têm de garantir que, quando existe um parto, estão próximos para o caso de haver algum problema. Portanto, nessa circunstância, todos eles já emitiram uma minuta de escusa de responsabilidade já que não estão criadas condições para, em segurança, fazerem aquilo que lhes é atribuído e muitos destes médicos já fizeram este ano cerca de 200, 300 ou 400 horas extra, além daquilo que são as suas 40 horas de trabalho semanal", explicou Roque da Cunha.
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O responsável explica que, ao contrário do que aconteceu com a obstetrícia, o bloco de partos de Leiria não foi reforçado com os pediatras das Caldas da Rainha.
"As Caldas não têm pediatras sequer para responder às suas necessidades básicas e, portanto, é impossível que mesmo que houvesse essa vontade voluntariamente, mesmo que esses colegas se disponibilizassem, houvesse condições para esse efeito. Quando se decide fazer um encerramento, tem-se de, naturalmente, criar condições para que as pessoas, os portugueses, as crianças e grávidas não sejam postas em risco", acrescentou o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos.
Roque da Cunha avisa que o problema está agora nas mãos do Governo, que sabe o que se passa há muito tempo.
Os médicos exigem também que não seja aceite o desvio para o CHL da atividade assistencial do serviço de Obstetrícia (internamento, bloco de partos e urgência obstétrica) da maternidade do Hospital das Caldas da Rainha, lê-se no abaixo-assinado, dirigido ao diretor clínico do CHL e com conhecimento do presidente do conselho de administração, do diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, da Ordem dos Médicos, da Federação Nacional dos Médicos e do Sindicato Independente dos Médicos.
No documento, datado de segunda-feira, a equipa médica do serviço de Pediatria denuncia, mais uma vez, que "não estão reunidas as condições de segurança para o exercício da atividade médica de qualidade na urgência pediátrica, no bloco de partos e na maternidade", o que coloca em "risco a segurança de doentes e profissionais".
Explicando que em novembro de 2022 e maio passado a equipa médica já tinha demonstrado "as preocupações com o funcionamento da urgência pediátrica", os subscritores referem que "acresce agora outra situação", devido ao fecho da maternidade de Caldas da Rainha, do Centro Hospitalar do Oeste, este verão, com o desvio para o CHL da atividade assistencial.
"Foi decidido que a equipa médica e de enfermagem do serviço de obstetrícia do Hospital das Caldas da Rainha viesse reforçar as equipas médicas e de enfermagem do Hospital de Santo André [Leiria]", adianta, realçando que não foi decidido pela tutela o mesmo reforço do serviço de Pediatria", pelo que "terá de manter o apoio já prestado anteriormente com a sobrecarga acrescida".
Segundo a equipa, a situação "irá ser agudizada no período de verão", com as férias. "Após todas as tentativas de solução demonstradas pelo serviço, não houve qualquer alternativa/atitude demonstrada pela administração e pela tutela no sentido da resolução" de uma situação que classificam de incomportável, é referido.
"Não temos elementos disponíveis para preenchimento de todos os períodos necessários de forma a elaborar a escala do serviço de urgência nos próximos meses, pelo que não vemos alternativa ao encerramento da urgência pediátrica [tal como funciona agora, 24 horas por dia, sete dias por semana], com apoio a maternidade, berçário, enfermaria, unidade de cuidados especiais pediátricos, unidade de internamento de curta duração e urgência", acrescentam os profissionais.
A TSF já contactou a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde, a direção clínica do Hospital de Leiria e também a Ordem dos Médicos, que recebeu este abaixo-assinado. Até agora não há respostas.
Em 18 de abril, o Centro Hospitalar do Oeste anunciou que a maternidade do Hospital das Caldas da Rainha vai ser requalificada, obra que incide no serviço de Obstetrícia e no bloco de partos, e que obriga, até setembro, à transferência das grávidas para Leiria.
O Centro Hospitalar do Oeste integra os hospitais das Caldas da Rainha, Peniche e Torres Vedras, abrangendo os concelhos de Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche, Bombarral, Torres Vedras, Cadaval e Lourinhã e de parte de Alcobaça e de Mafra, com cerca de 298 mil habitantes.
Já o CHL integra os hospitais de Leiria, Pombal e Alcobaça. Segundo o seu sítio na Internet, o CHL tem como "área de influência a correspondente aos concelhos de Batalha, Leiria, Marinha Grande, Porto de Mós, Nazaré, Pombal, Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera, Ansião, Alvaiázere, Ourém e parte dos concelhos de Alcobaça e Soure, servindo uma população de cerca de 400.000 habitantes".