Médicos de Saúde Pública querem plano multidisciplinar para evitar problemas com fentanil em Portugal
Gustavo Tato Borges revela que os 12 casos de dependência em Portugal terão nascido de prescrições médicas que deixaram os pacientes dependentes do uso do opioide.
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No dia em que a Direção-Geral da Saúde anunciou que vai rever a circular sobre o uso de medicamentos opioides fortes na dor crónica não oncológica, e numa altura em que há já em Portugal casos de dependência de fentanil, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, afasta na TSF quaisquer dramas no país, mas lembra que é melhor prevenir do que remediar.
Há neste momento "12 pessoas, pelo menos, reconhecidas com esta dependência e em tratamento”, que se juntam a um fenómeno "que já é muito frequente noutros países, nomeadamente nos Estados Unidos e que, se nada for feito nesta fase, poderemos vir a ter uma situação semelhante a muitos outros países, algo que não pretendemos”.
Assumindo-se preocupado com o tema, Tato Borges defende em declarações à TSF uma abordagem multidisciplinar do tema que, além da saúde pública, envolva “psiquiatria, psicologia e outros profissionais da área da reabilitação” para "delinear um plano” que evite uma "realidade dramática em Portugal”.
Os casos portugueses não resultam, no entanto, de uso recreativo e a “grande maioria, se não mesmo a totalidade” dos 12 casos são de pessoas “que tiveram o tratamento prescrito".
"Começou por ser uso terapêutico mais ou menos adequado, mas evoluíram para um fenómeno de dependência”, tendo em alguns casos bastado "utilização habitual deste medicamento para uma situação de dores que era necessário resolver e, no final desse tratamento, a pessoa já estava de facto dependente desta substância e não pôde sair”.
Quanto à revisão da norma que a DGS agora iniciou, Tato Borges considera-a um procedimento normal, até porque já leva um "período longo de introdução” em Portugal.
"Poderemos sempre colocar aqui algum tipo de maior controlo na prescrição”, defende o médico, por exemplo, de modo que "apenas com uma determinada especialidade ou competência” se possa prescrever este tipo de medicamentos de modo "mais controlado possível”.
"Obviamente é uma boa medida da DGS estar a reavaliar este assunto para que Portugal possa estar sempre na vanguarda da resolução, ou até mesmo para podermos evitar que isto se torne um problema de saúde pública”, apontou em declarações à TSF, insistindo na necessidade de "balizar muito concretamente em que circunstâncias pode ser prescrita a medicação, quem são os utentes que melhor beneficiam e quais os critérios para que isso possa acontecer”, de modo a evitar "uma proliferação exagerada de prescrições”.
Em Portugal, o caso “não é ainda dramático”, mas o número de prescrições deste tipo de opioides “tem vindo a aumentar ao longo dos anos”, aumentando também a necessidade de “regras e critérios claros”.