Médicos defendem limite de som nos auscultadores para prevenir surdez entre jovens
No Dia Mundial da Audição, os especialistas chamam a atenção para a saúde auditiva dos mais novos. Cerca de 34 milhões de crianças em todo o mundo têm perdas de audição, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
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Nuno Trigueiros, presidente da Associação Portuguesa de Otoneurologia, defende que o som dos auscultadores deve ter um limite por lei para preservar a saúde auditiva das crianças e jovens em Portugal.
O médico otorrinolaringologista lembra que há países com meio legais que possibilitam a limitação dos decibéis dos auscultadores, não permitindo que "uma pessoa esteja do lado de fora a ouvir a mesma música que os miúdos estão a ouvir".
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 34 milhões de crianças em todo o mundo têm perdas de audição. Nuno Trigueiros garante que podem ser prevenidas e dá o exemplo da otite média com efusão. "No fundo, é a acumulação de líquido atrás do tímpano e que faz com que o tímpano não funcione como deve ser, provocando uma surdez", explica o médico.
Nuno Trigueiros afirma que este tipo de surdez precoce pode ter um impacto prejudicial particular porque decorre no período em que a criança está a aprender a falar. "É responsável por atrasos, às vezes irreversíveis, da linguagem e do desenvolvimento cognitivo. E provoca alterações de personalidade marcantes. As crianças que ouvem mal, normalmente, são crianças que se isolam, pouco sociáveis - e isso é importante diagnosticar precocemente e intervir de maneira que o desenvolvimento da criança se faça da maneira mais harmónica e melhor possível", explica.
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Surdez pode desenvolver demência
No Dia Mundial da Audição, que se comemora a 3 de março, o médico Nuno Trigueiros garante que deixar de ouvir tem consequências graves, tanto a nível de saúde, como profissional e social.
O presidente da Associação Portuguesa de Otoneurologia, um ramo que se dedica à relação entre ouvidos e o sistema nervoso central, explica que a perda de audição pode ter efeitos na personalidade do doente e é um fator importante para o aparecimento de demência.
"As pessoas acabam por se alhear do mundo e esse alheamento provoca demência. Está reconhecido cientificamente por muitos artigos publicados que é, de facto, uma causa importante de demência", garante.
Este efeito cascata sobre a saúde agrava-se devido aos mitos e preconceitos associados à surdez. O médico dá o exemplo do uso de aparelhos auditivos, muitas vezes evitado por estar associado à velhice. "A desmistificação da utilização das próteses é muito importante. Quando elas são bem adaptadas, fazem milagres. Tornam pessoas que estão totalmente aliadas do mundo, em pessoas ativas e participativas."
Estado pode fazer mais
Nuno Trigueiros defende o uso de aparelhos auditivos e rejeita o mito de que podem tornar o ouvido preguiçoso, como acontece com os olhos. "A habituação às lentes dos óculos faz com que o cristalino e os músculos responsáveis pelas convergências se tornem mais preguiçosos, enquanto no ouvido isso não se passa. No ouvido, o problema não tem qualquer razão muscular", garante.
O médico lamenta que os portugueses prestem pouca atenção à saúde auditiva e defende que o Estado tem obrigação de fazer mais. "O Estado não comparticipa essas despesas. O Estado tem responsabilidade também na saúde auditiva dos portugueses, não é só nas outras."
A OMS estima que quase 500 milhões de pessoas em todo o mundo apresentem perda de audição com impacto social. Em 2050, a OMS acredita que o número subirá para 900 milhões.
Mais de 1.1 mil milhões de jovens entre os 12 e os 35 anos estão em risco de perder audição devido a exposição ao ruído em situações de lazer.