Médicos e lares querem vacina obrigatória para profissionais de saúde. Enfermeiros são contra
Países como a Grécia e a França implementaram a vacinação obrigatória para quem trabalha em hospitais e lares. Deve Portugal seguir o exemplo? As opiniões dividem-se.
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Sindicato dos médicos, instituições de solidariedade social e lares de idosos defendem que a vacinação contra a Covid-19 dos profissionais de saúde deveria ser obrigatória em Portugal, à semelhança do que acontece noutros países europeus. Já o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses considera que essa seria uma forma de discriminação e uma violação às liberdades desses trabalhadores.
Depois da Grécia, a França é o mais recente Estado a decretar a obrigatoriedade das vacinas para os profissionais que trabalham com pessoas frágeis em hospitais e lares. O anúncio foi feito pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, esta segunda-feira.
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A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) defende que o exemplo deveria ser seguido em Portugal.
Em declarações à TSF, o padre Lino Maia, presidente da confederação, sublinha que ser vacinado contra a Covid-19 é uma "obrigação moral", mas que, nestes casos, "era importante também que fosse uma obrigação legal".
"A medida adotada na França e na Grécia devia também ser adotada em Portugal. Não é que haja muitos casos de pessoas que se neguem a ser vacinadas, nomeadamente nos lares, mas basta um para que estejamos a abrir uma janela de transmissão do vírus", constata Lino Maia. "Se [estes profissionais] se negarem a ser vacinados, então deveria haver a possibilidade de os transferir para outras atividades, para que não estejam em contacto com os mais frágeis", ressalva.
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Também João Ferreira de Almeida, presidente da Associação de Apoio Domiciliário, de Lares e Casas de Repouso de Idosos (ALI), apoia a vacinação obrigatória, apesar de poderem estar em causa direitos e liberdades dos trabalhadores.
"Não podemos pensar só nos direitos individuais de cada um, temos de pensar nos direitos de todos. O facto de uma pessoa se recusar a vacinar-se pode pôr em causa os direitos de outros também", argumenta.
Por este motivo, considera que, "no mínimo, há que refletir" sobre a obrigatoriedade da vacina para os profissionais em causa.
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O presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, é também a favor da vacinação obrigatória dos profissionais de saúde, até por uma "questão de exemplo". "Não adianta estarmos a dizer que os estudos aconselham a vacinação e não o fazermos", nota.
O motivo essencial prende-se, apesar de tudo, pelo facto de "os profissionais de saúde, particularmente os médicos", serem "essenciais para o combate da pandemia".
"Qualquer médico infetado, além de poder aumentar - e muito - a sua possibilidade de falecer ou de ter sequelas incuráveis, cria à sua volta uma limitação a dezenas de profissionais para trabalharem", sustenta Roque da Cunha.
O presidente do Sindicato Independente dos Médicos espera, por isso, que o Governo tome uma decisão no sentido de tornar a vacinação contra a Covid-19 obrigatória.
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Já Guadalupe Simões, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), é contra tal medida, alegando que os profissionais de saúde têm os mesmos direitos que qualquer outro cidadão, pelo que a vacinação não pode ser imposta.
Para a sindicalista, tornar a vacinação obrigatória seria "mais uma forma de discriminação dos profissionais de saúde". "Eles não deixam de ser cidadãos antes de serem profissionais de saúde"; alerta. "Em termos de liberdades, direitos e garantias, colocá-los-ia numa situação diferente comparativamente aos outros cidadãos portugueses."
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Guadalupe Simões recorda que "nenhum cidadão em Portugal deve ser obrigado a receber um determinado tratamento ou terapêutica" contra a sua vontade e insiste que "a vacina não deixa de ser um tratamento, ainda que preventivo".
"A vacinação é voluntária e os profissionais de saúde não deverão ser obrigados a ser inoculados", remata.
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