Um inquérito da Ordem dos Médicos sobre o futuro da saúde em Portugal revela que os clínicos mais jovens estão mais pessimistas do que os colegas mais velhos.
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Apesar de terem uma visão global moderamente optimista, o estudo conclui que os médicos mais jovens estão mais pessimistas do que os colegas com mais anos de vida e de experiência. Entre os 16 parâmetros avaliados, três apresentam resultados "fortemente negativos": as alterações climáticas, o financiamento do sistema de saúde e a tipologia das doenças.
Numa escala de 1 a 10, o impacto do clima tem apenas 4 pontos, o financiamento fica-se pelos 4,4 e a evolução da tipologia das doenças chega a meio da escala, aos 5 pontos. Isto significa que os médicos acreditam que, no futuro, haverá mais doenças transmissíveis e eventos extremos ligados ao clima. As doenças crónicas, cancro e demências vão manter-se e o sistema de saúde terá muita dificuldade em reinventar-se. Nem em 2040 será muito diferente, ou seja, o sistema vai continuar "ancorado no papel predominante do Estado, sem capacidade de atrair recursos financeiros e qualidade de gestão".
Perante as dificuldades do Serviço Nacional de Saúde (SNS), os médicos estão convencidos que os seguros e sistemas alternativos de financiamento vão continuar a crescer.
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Em declarações à TSF, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães, admite mesmo que o "SNS pode estar em causa, daqui a alguns anos, se nada for feito para o modernizar".
O bastonário considera "muito preocupante" que os médicos mais jovens sejam tão pessimistas. Significa que "os médicos já não acreditam nos políticos", afirma Miguel Guimarães, apontando uma "perda de credibilidade" do SNS pelas "pessoas que o fazem acontecer todos os dias". O bastonário teme a emigração dos médicos mais jovens, que "não acreditam que isto vá mudar, acham que as condições de trabalho são péssimas e têm oportunidades muitíssimo melhores" no estrangeiro.
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Miguel Guimarães defende que é urgente avançar com a modernização do sistema, transmitindo confiança aos profissionais de saúde. "A principal missão neste momento, do ministro da saúde, director executivo e até partidos políticos, incluindo deputados, é transmitir confiança e fazer com que os profissionais de saúde acreditem que existe vontade de melhorar o sistema de saúde e explicar muito bem aos portugueses o que se quer do sistema de saúde e porquê."
Como pontos positivos registados no inquérito, são apontadas a evolução da ciência e da tecnologia, com o uso de simuladores na formação dos médicos e na prática clínica. Os médicos também estão confiantes na aquisição de novas competências, no trabalho das equipas multidisciplinares e num maior acesso aos dados clínicos, por parte de todos os intervenientes.
O estudo ouviu 1792 médicos de todo o país, com inquéritos online. Foi feito no final de Dezembro de 2021, mas só agora é conhecido.
A autora não escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico