Responsável da Ordem dos Médicos fala em médicos de família e urologistas a avaliar medicamentos para doentes com cancro. Infarmed garante que avaliações são feitas por equipas multidisciplinares e incluem sempre oncologistas.
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O presidente do Conselho Regional Norte da Ordem dos Médicos acusa o Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento) de ter médicos que não são oncologistas a avaliar medicamentos inovadores para o cancro.
António Araújo garante que esta é uma das razões para as recusas de novos medicamentos para doentes oncológicos denunciadas na semana passada.
Além de responsável da Ordem dos Médicos, António Araújo também é oncologista e garante que conhece vários doentes com cancro a quem foram recusados medicamentos inovadores já aprovados pela Agência Europeia de Medicamentos, nas chamadas autorizações especiais pedidas pelos médicos antes da decisão de comparticipação do Serviço Nacional de Saúde.
O médico fala em casos de doentes com cancros da mama, pulmão, melanoma, rim, ou seja, "múltiplas patologias".
Quem avalia?
António Araújo explica que um dos problemas que motiva estas recusas está em quem faz a avaliação.
"Nós temos uma série de pedidos da área oncológica que são avaliados por especialistas da área da medicina geral e familiar ou de urologia, que nada têm a ver com a área para a qual o medicamento está a ser pedido", detalha.
O representante dos médicos acusa o Infarmed de estar a travar cada vez mais o acesso a medicamentos inovadores com o objetivo, tudo indica, de poupar dinheiro ao Estado.
O facto de existirem não-oncologistas "a avaliar os pedidos de autorização especial é um problema pois depois esses especialistas para não autorizar o pedido dão justificações que em nada se enquadram com a patologia".
Infarmed garante equipas multidisciplinares com oncologistas
Questionado pela TSF, o Infarmed garante que as avaliações de medicamentos são feitas por "equipas multidisciplinares em função do momento da avaliação".
A autoridade do setor não desmente que existem não-oncologistas a avaliar medicamentos para o cancro, mas explica que as equipas têm "sempre oncologistas" quando os fármacos têm como destino a área da oncológica.
O Infarmed afirma ainda que as decisões sobre medicamentos inovadores para o cancro, com origem na Comissão de Avaliação de Tecnologias de Saúde, nada têm que ver com critérios económicos - "o critério preço nem é tido em conta nesta fase".
A Autoridade Nacional do Medicamento acrescenta que Portugal tem uma excelente resposta na área oncológica "como demonstram os resultados que têm sido alcançados e que nos colocam a par com os melhores resultados a nível europeu".
"Nos últimos anos temos tido mais aprovações e a maior parte é na área oncológica", diz o Infarmed, afirmando que "desde 2016 foram financiados mais de 40 novos medicamentos na área do cancro e só este ano já foram aprovados para financiamento 15 novos medicamentos".