Médicos Sem Fronteiras alertam para medidas agressivas de Itália no Mediterrâneo
O chefe de missão da organização para o Mediterrâneo alerta que, ao contrário do que é transmitido pelos políticos europeus, a crise ainda não acabou.
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Um ano depois de Itália ter decidido fechar os portos para desembarque de barcos que fazem buscas e salvamento de migrantes, morreram mais de 1100 pessoas enquanto tentavam chegar à Europa por mar.
O número está a preocupar as várias organizações que estão em missão no mediterrâneo, como os Médicos Sem Fronteiras.
À TSF, o chefe de missão para a Líbia e o Mediterrâneo, Sam Turner, conta que no último ano quase 20 navios ficaram em alto mar por vários meses sem terem onde atracar.
"Tem havido toda uma gama de táticas usadas pelos governos europeus para tentarem evitar que os navios humanitários façam buscas e salvamentos no Mediterrâneo", denuncia o responsável.
"A principal tática tem sido o bloqueio de portos para o desembarque e isso levou a 18 impasses, situações em que um navio que fez um resgate depois foi impedido de desembarcar as pessoas num sítio seguro. Durante este tempo, 2443 pessoas ficaram mais de 140 dias no mar enquanto os líderes políticos dos diferentes países demoram a encontrar uma solução para esta crise", conta Sam Turner.
Durante este impasse político no Mediterrâneo, mais de 10 mil pessoas foram forçadas a regressar à Líbia, onde enfrentam violência e dificuldades.
Sam Turner lamenta que a Europa não tenha em conta vida humanas e considera que as políticas europeias têm um custo muito pesado para os migrantes.
"É evidente que enquanto tentam prevenir a migração em direção à Europa, todas estas políticas cínicas não têm em conta vidas humanas. De certo modo, estas políticas resultaram num sucesso muito cínico para estes líderes que garantem que a crise migratória chegou ao fim", refere o médico.
"A crise está longe de acabar porque as pessoas continuam a morrer e continuam a sofrer devido a políticas que impedem as pessoas de chegarem até à costa europeia", alerta.
O chefe de missão dos Médicos Sem Fronteiras para a Líbia e Mediterrâneo aponta o dedo à Europa mas sobretudo a Itália, falando das políticas agressivas que passam por fechar portos e criminalizar quem tenta ajudar.
"Itália tem desempenhado um papel de liderança nestas táticas agressivas que impedem o trabalho dos navios de buscas e salvamentos. E eles não pararam aí. Levaram esta abordagem agressiva ainda mais longe ao criminalizar as organizações que simplesmente estão a tentar salvar pessoas que, caso contrário, estariam perdidas no mar", acrescenta.