"Medida desumana." Movimento de utentes diz que novo modelo de urgências de obstetrícia cria "ansiedade"
Cecília Sales, representante do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, não concorda com o novo modelo de urgências de Obstetrícia e Pediatria e defende que a medida prejudica as grávidas e as respetivas famílias
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Cecília Sales, do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, considera "desumana" a medida do Governo que obriga as mulheres a ligar à linha SNS Grávida antes de se dirigirem às urgências dos hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo e Leiria. A sindicalista acredita que a medida "em nada vai ajudar" o Serviço Nacional de Saúde e acrescenta que só vai "trazer ansiedade às grávidas e às famílias".
O novo modelo de urgências destas especialidades arrancou esta segunda-feira. Para já, é um projeto-piloto, que poderá ser alargado a mais unidades de saúde do país após três meses. Em declarações à TSF, Cecília Sales considera que o "procedimento é inacreditável, porque se tratam de grávidas, que a qualquer momento podem ter a criança".
A representante do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos indica que esta medida é uma consequência da falta de profissionais no SNS. "São medidas que não têm qualquer tipo de explicação, são completamente desumanas e que se prendem com aquilo que é um problema crónico, que é a falta de profissionais de saúde na obstetrícia e na pediatria. Não se criam condições para fixar médicos", lamenta Cecília Sales.
A sindicalista sublinha ainda que a medida "pode trazer consequências gravíssimas" e avança com a possibilidade de as mulheres terem os bebés à porta dos hospitais. "É incrível como se desvaloriza o nascimento de uma criança, as preocupações da grávida e das famílias, quando, por outro lado, lamentamos que a natalidade está baixa e depois tomam-se medidas desta natureza", defende Cecília Sales.
As grávidas da Região de Lisboa e Vale do Tejo, incluindo o Hospital Distrital de Leiria, terão de ligar a partir desta segunda-feira para a Linha SNS Grávida antes de recorrerem à urgência hospitalar de Obstetrícia e Ginecologia.
"Este novo modelo das urgências de Obstetrícia e Ginecologia arranca assim em fase piloto com as ULS [Unidades Locais de Saúde] da Região de Lisboa e Vale do Tejo e de Leiria e será reavaliada dentro de três meses", adianta o Ministério da Saúde, em comunicado.
O projeto-piloto poderá abranger ainda outros hospitais de diferentes regiões que manifestem interesse em participar, desde que preencham determinados requisitos.
"As ULS que queiram aderir voluntariamente podem fazê-lo, o que já ocorreu com as de Gaia/Espinho [Hospital de Gaia], Alto Alentejo [Hospital de Portalegre] e Santo António [Centro Materno Infantil do Norte]. Ao final de três meses haverá lugar a uma avaliação do impacto, para que o plano possa ser estendido a todo o país", indica a tutela.
No comunicado, o Ministério da Saúde refere ainda que, a partir de janeiro, as ULS da Península de Setúbal (Almada-Seixal, Arco Ribeirinho e Setúbal) vão também aderir.
O restante calendário ainda está a ser definido e será "oportunamente divulgado", segundo fonte da tutela.