"Medida insuficiente em Lisboa e Vale do Tejo." Mais quatro hospitais vão deixar de receber nas urgências doentes menos graves
O projeto já se aplica em três unidades do Norte e agora vai ser alargado ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, e aos hospitais de Santarém, Penafiel e Barcelos
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Há mais quatro hospitais que vão deixar de receber nas urgências os casos de doentes menos graves. O jornal Público adianta que o projeto, que já se aplica em três hospitais da região Norte, vai ser alargado a mais quatro unidades: o Hospital Garcia de Orta, em Almada, e os hospitais de Santarém, Penafiel e Barcelos. Nestes hospitais, os doentes menos graves serão desviados para os centros de saúde. Em declarações à TSF, o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, alerta que, apesar dos bons resultados a Norte, a medida deve ser insuficiente na região de Lisboa e Vale do Tejo.
"As experiências aqui no Norte têm corrido bem, mas a verdade é que a realidade no Norte e a realidade em Lisboa e Vale do Tejo é muito diferente naquilo que diz respeito à oferta de cuidados de medicina geral e familiar, com uma elevada proporção de utentes em Lisboa e Vale do Tejo sem médico de família. E parece-me que esta medida, apesar de ser interessante, é uma medida que vai ser insuficiente. Se não resolvermos os problemas de base daquilo que tem o SNS, da capacidade de atratividade e de captação e de retenção de profissionais qualificados nos seus quadros, nós não vamos conseguir que estes modelos funcionem da melhor maneira e vamos apenas andar a empurrar os doentes de um lado para o outro", explica à TSF Gustavo Tato Borges.
Os administradores hospitalares partilham das dúvidas dos médicos de saúde pública. À TSF, o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, Xavier Barreto, espera que a situação seja acautelada.
"Naturalmente que eu espero que o Ministério da Saúde tenha este cuidado. Eu espero que tenham cuidado e só proponham essa solução aos doentes que, de facto, tenham médico de família, não passa pela cabeça que possa ser outra forma. Mas, sim, a diferente cobertura que existe de médicos de família na região Sul, que é muito mais baixa do que a região Norte, poderá ser um obstáculo à implementação deste tipo de projetos", afirma.
Para Xavier Barreto, esta medida não vai resolver o problema da falta de médicos. O presidente da Associação dos Administradores Hospitalares considera que é preciso reforçar os recursos humanos.
"Pode ser uma solução para uma dimensão do problema. Os serviços de urgência têm muitos outros problemas, nos últimos meses os serviços de urgência têm estado encerrados em muitas especialidades por falta de recursos humanos, em concreto, por falta de médicos. E isso, obviamente não se vai resolver com este tipo de projetos e, portanto, pode ajudar a resolver essa dimensão do problema, mas há muitas outras, eu diria que a questão dos recursos humanos é a mais premente e mais urgente e da qual mais depende o bom funcionamento do serviço de urgência e essa, obviamente, não vai ser resolvida com este tipo de projeto", sublinha.
Questionado pela TSF, o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública faz também um balanço do funcionamento das urgências este verão, considerando que ficou aquém das expectativas.
"Em termos daquilo que foi o número de urgências encerradas, aquilo que foi o número de locais que não foram capazes de dar resposta, eu diria que o resultado fica aquém daquilo que eram as expectativas. Comparado com o ano passado, se calhar também não terá sido o melhor resultado. Infelizmente, não foi o resultado que queríamos, esperemos que para o inverno não tenhamos os mesmos condicionantes e que no próximo verão isto não volte a acontecer", acrescenta.
Um total de 13 serviços de urgência de ginecologia/obstetrícia e pediatria, a maioria na região de Lisboa e Vale do Tejo, estarão encerrados no fim de semana, informou a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Em comunicado enviado à agência Lusa, a Direção Executiva acrescentou que quatro serviços de urgência vão estar referenciados para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Das 13 urgências encerradas neste período, um número "em atualização", nove são relativas a serviços de ginecologia/obstetrícia e pediatria e sete dessas estão localizadas na região de Lisboa e Vale do Tejo, informou a mesma fonte.
A Direção Executiva do SNS alerta a população para "constrangimentos nos serviços de urgência durante o próximo fim de semana" e pede aos utentes para "ligarem sempre para a linha SNS24/SNS Grávida 808242424 antes de se dirigirem a um hospital".
Sábado, com oito urgências fechadas de obstetrícia/ ginecologia e quatro de pediátricas, é o dia com o maior número de serviços encerrados.
No sábado e domingo estarão abertos 154 serviços de urgência.
As unidades referenciadas significam que os serviços estão reservados aos casos de urgência internos ou referenciados pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) ou pela linha SNS 24.