Mesmo com vacinas, vai ser "extremamente difícil" acabar com circulação do SARS-CoV-2
ECDC defende que vacinas são "altamente eficazes" e que ainda não há evidências que justifiquem terceiras doses.
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O Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, a sigla em inglês) avisa que não há um número mágico que garanta a imunidade de grupo e que dê certezas sobre o fim da Covid-19.
Em entrevista à TSF, um dos peritos do centro adianta, igualmente, que ainda não há evidências suficientes para que os governos avancem com as terceiras doses.
"Ciência não é clara"
Recorde-se que vários países europeus já anunciaram essas doses de reforço, apesar da contestação da Organização Mundial de Saúde (OMS) que defende que primeiro é preciso imunizar uma maior percentagem da população nos países mais pobres.
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Epidemiologista e investigador principal na área das vacinas, Edoardo Colzani, refere que, "de momento, o ECDC pensa que há evidências insuficientes. A ciência não é, de todo, clara. Precisamos de continuar a rever a informação, nas próximas semanas, e perceber se em alguns grupos específicos, e não - sublinho - em toda a população, pode ser aconselhada uma dose adicional da vacina", nomeadamente em pessoas consideradas mais vulneráveis.
Com bem mais de metade da população portuguesa e europeia completamente vacinadas, num processo que está em plena velocidade de cruzeiro, o Centro Europeu de Controlo de Doenças avisa, no entanto, que não devemos pensar, tão cedo, em imunidade de grupo.
"O problema da imunidade de grupo é que é um conceito teórico simpático, mas na prática pode não ser assim tão óbvio como parece. Eu prefiro não falar em imunidade de grupo. Não há um número mágico que se alcance e que acabe com o problema", diz Edoardo Colzani.
O perito detalha que a imunidade de grupo é complicada porque as vacinas não travam a transmissão do vírus, evitando, acima de tudo, os casos graves de doença e mortes, num objetivo que, segundo afirma, está a ser atingido de forma "brilhante" através das vacinas.
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A limitação das vacinas contra a Covid-19, que não evitam a transmissão do coronavírus, faz, contudo, com que a imunidade de grupo, "esse Eldorado teórico, seja mais desafiante. Será preciso ter uma cobertura realmente elevada em todas as comunidades e em todos os países e mantê-la ao longo do tempo, pois há sempre a possibilidade de existir uma imunidade mais fraca em determinada altura ou em determinados grupos. Vai ser extremamente difícil atingir um nível de cobertura que garanta que não vai existir qualquer circulação do vírus. De momento, a prioridade é prevenir as hospitalizações e as mortes", afirma o especialista do ECDC.
Sobre o surgimento de cada vez mais episódios de vacinados infetados com SARS-CoV-2, Edoardo Colzani admite que é "paradoxal", mas isso é normal e, em parte, inclusive, uma "boa notícia": é sinal de que existem cada vez mais europeus vacinados.
Estes casos estão a ser monitorizados pelo ECDC, continuam a ser raros - na comparação com o crescente número de pessoas vacinadas - e já eram esperados porque já se sabia que as vacinas não são 100% eficazes - apesar de serem "altamente eficazes".