Esta terça-feira, cerca de uma centena de caretos de Podence, em Macedo de Cavaleiros, voltam às ruas daquela aldeia do distrito de Bragança para chocalhar quem lá passe. Há quem lhe chame o carnaval mais genuíno de Portugal e até já adquiriu o estatuto de Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.
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Desde sábado, que a pequena aldeia, com pouco mais de 200 habitantes, tem acolhido milhares de visitantes para assistirem ao tradicional Entrudo Chocalheiro. Durante quatro dias, os caretos andam à solta, a chocalhar as mulheres com os chocalhos que trazem à cintura dos coloridos fatos, disfarçados com as típicas máscaras de ferro.
Esta tarde, o carnaval termina com a queima do entrudo e nova multidão deve rumar àquela aldeia transmontana.
Mesmo com as condições climatéricas inconstantes, nos últimos três dias, a gente era tanta que havia carros estacionados a vários quilómetros da aldeia. O presidente da Associação dos Caretos de Podence, diz ser “difícil quantificar” o número de pessoas que passam por ali. “Pelo histórico dos anos anteriores, devem ultrapassar as 50 mil pessoas e as unidades hoteleiras em redor, em Macedo, Mirandela, Valpaços, Bragança e em todo o território, estão completamente lotadas”, assegura António Carneiro.
E os protagonistas são os caretos, gente da terra que durante estes dias veste um colorido fato amarelo, vermelho e verde, para chocalhar as mulheres, ostentando máscaras intimidantes. “Isto é uma sensação de adrenalina que ninguém imagina. É fantástico”, assume um dos caretos.
As personagens endiabradas saem à rua para chocalhar, “mas só as mulheres. Nós não queremos nada dessas modernices”, ironiza.
E para garantir a preservação desta tradição, nada melhor do que incentivar os mais novos a vestir o traje dos caretos. Já são conhecidos como os facanitos. “Chocalhamos, andamos à volta do careto grande que vai ser queimado, dar com o carapuço aos homens. É a tradição”, diz a pequena Lara. E quanto custa um fato de careto? “Cerca de 600 euros, mas é bem costuradinho, passa de 50 metros de franja que é feito por mim num tear, tenho de arranjar as mantas antigas. É caro, mas dura uma eternidade. É de pai para filho”, assegura João Teixeira, um bancário aposentado que agora se dedica a vender vários artigos relacionados com os caretos.
E quem vai uma vez no entrudo chocalheiro, fica sempre com vontade de repetir. É o caso de Joana Santos, que vive em Braga. “Cada vez está melhor e forma como o carnaval mais genuíno de Portugal sai às ruas de Podence é maravilhosa”, diz.
Os CTT lançam, hoje, uma série de três selos dedicados aos Caretos de Podence que também vão dar nome a um vinho com edição limitada. “É uma parceria com os CTT e com uma empresa aqui da região que também se quiseram associar a esta tradição e a esta cultura”, sublinha António Carneiro.
O responsável pela empresa Casa Zé Pedro, de Valpaços que produz o vinho, diz que viram nos caretos de Podence uma forma de poder “homenagear” todos os transmontanos. “O próprio rótulo é todo ele uma ilustração daquilo que são os caretos a chocalhar pelas ruas de Podence e é uma edição limitada de 13333 garrafas, porque corresponde a 10 mil litros de vinho, e uma parte das vendas reverte a favor da associação dos caretos, pelo que tem aqui também uma componente solidária”, frisa.
Os dias do Entrudo, são aproveitados pelos habitantes de Podence para abrir as garagens e as adegas, transformando-os numa espécie de tabernas para que os milhares de visitantes possam degustar a gastronomia transmontana. Outros aproveitam para vender o artesanato.
E a festa termina esta tarde, com a queima do entrudo. Simboliza queimar aquilo que é de velho e aquilo que é de mau e partir para um novo ciclo da Primavera de uma nova energia positiva”, afirma António Carneiro.
Ainda está a tempo de visitar Podence e ser chocalhado pelos caretos.
