Militantes de extrema-direita ocupam espaço da manifestação “Não nos encostem à parede”
Mariana Mortágua assegura à TSF que a presença de militantes de extrema-direita não "desviará" os manifestantes do seu objetivo e destaca a "coragem" daqueles que se mostram solidários e orgulhosos da luta pelo anti-racismo e da democracia
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Uma hora antes do início da manifestação agendada pelo movimento “Não nos encostem à parede”, um grupo de militantes de extrema-direita ocupou o lado poente da Alameda, em Lisboa, para onde está agendado o protesto contra a atuação da PSP.
Espaçados, com faixas e grandes bandeiras de Portugal e da sigla partidária, os apoiantes do partido Ergue-te e do movimento Habeas Corpus ocuparam uma área substancial do espaço, levando mesmo um vendedor de livros anarquistas que estava no local a mover-se para um passeio mais afastado.
Em silêncio, querem fazer a sua oposição à manifestação contra a atuação da PSP nos locais de grande concentração de imigrantes e na periferia da Grande Lisboa. São já dezenas, que levantam tarjas e bandeiras de Portugal.
Milhares de pessoas são esperadas este sábado em Lisboa numa manifestação contra o racismo e xenofobia, denominada "Não nos encostem à parede", em protesto contra a atuação da polícia na zona do Martim Moniz que visou imigrantes.
Em declarações à TSF, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, que participa na manifestação "Não nos encostem à parede", destaca que este é um "momento de solidariedade e união", salientando a "coragem" daqueles que se mostram solidários e orgulhosos da luta pelo anti-racismo e da democracia, "que tem de ser protegida". Sobre a presença de militantes da extrema-direita, a bloquista desvaloriza e assegura que "nada desviará" os manifestantes da luta pelo fim da xenofobia.
"Há um fator inédito que é a capacidade de vários partidos se unirem para convocar e de estarem em conjunto na organização de uma manifestação, com movimentos sociais e imigrantes. E essa capacidade de organização e solidariedade está ganha", salienta.
Na sequência da intervenção da PSP no dia 19 de dezembro na rua do Benformoso, perto do Martim Moniz, em Lisboa, e das imagens de dezenas de imigrantes encostados às paredes dos prédios, para serem revistados, vários ativistas de esquerda e uma centena de organizações subscreveram um apelo contra a atuação das forças policiais junto das periferias e dos imigrantes.
Este sábado, ao ver o aparato do partido de extrema-direita, um casal de idosos comentou à Lusa a tensão existente.
"Estes só vêm aqui provocar. Eu nem sou contra ou a favor da polícia, mas estes só estão aqui para provocar", afirmou Afonso Sousa, reformado da função pública.
O anúncio da manifestação, que tem início pelas 15h00 junto à Alameda e termina no Martim Moniz, motivou a resposta de grupos da extrema-direita e o partido Chega organizou uma vigília de apoio à PSP na Praça da Figueira para a mesma tarde, denominada "Pela autoridade e contra a impunidade".
Já o Ergue-te e elementos do Habeas Corpus optaram por estar presente na Alameda, no local da partida da manifestação, onde são esperados representantes de todos partidos da esquerda parlamentar.
Para o local começaram a acorrer, de modo discreto, motas e veículos da PSP de modo a criar um perímetro entre os dois grupos.
Já os manifestantes do movimento "Não nos encostem à parede" optaram por se concentrar um pouco mais abaixo, no limite sul da Alameda com a avenida Almirante Reis.
