Ministério contraria Fenprof: pouco mais de mil alunos sem professor a pelo menos uma disciplina
Tutela aponta para 1161 alunos com falta de pelo menos um professor, Fenprof apontou para um número 40 vezes superior.
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Pouco mais de mil alunos estavam sem professor a pelo menos uma disciplina no final da semana passada, de acordo com o Ministério da Educação, que contraria o balanço feito esta quarta-feira pela Fenprof, que fala em cerca de 40 mil alunos.
"A 29 de dezembro, estavam sem professor a pelo menos uma disciplina 1.161 alunos", refere o Ministério da Educação numa nota enviada à agência Lusa.
A tutela acrescenta que não existem horários por ocupar anteriores ao início de novembro, o que significa que nenhum aluno está há mais de dois meses sem professor à mesma disciplina.
Os números divulgados pelo Ministério da Educação contrariam o balanço feito hoje pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), que referiu que 40 mil alunos recomeçaram as aulas sem terem todos os professores.
Desses, referiu ainda a organização sindical, quase 2000 alunos têm um professor em falta desde o início do ano, ou seja, têm uma disciplina a que nunca tiveram aulas.
"No início de dezembro eram cerca de 32.000 os alunos que não tinham os professores todos", disse o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, numa conferência de imprensa, indicando que no último mês do ano se aposentaram 371 docentes e que em janeiro vão aposentar-se mais 434.
"Isto é extremamente gravoso, porque significa para muitos alunos quase uma impossibilidade de recuperar um período inteiro", devido a três meses sem aulas. "Evidentemente que há aqui também uma discriminação social e financeira das famílias que vai permitir que algumas encontrem fora da escola a compensação que a escola não pôde dar, porque não tinha professores, e outras que não têm essa possibilidade".
A análise da Fenprof
Mário Nogueira defendeu que a falta de professores foi ainda "disfarçada" com um recurso "que não se via há décadas" a diplomados que não são professores profissionalizados. "O Ministério da Educação alargou até a possibilidade de outros diplomados poderem dar aulas", afirmou.
As estimativas da Fenprof apontam para 200 mil alunos que não têm todos os professores profissionalizados.
As disciplinas com mais carência de professores são informática, português, história e matemática (do 3.º ciclo e ensino secundário), segundo um levantamento efetuado pela Fenprof junto de mais de 200 agrupamentos e escolas não agrupadas.
Mário Nogueira sustentou que o problema tem solução, mas que não passa por baixar o nível da formação. Mais rápido do que formar professores, alegou, será recuperar para a carreira 20 mil professores que deixaram a docência.
"Isso consegue-se valorizando a carreira dos professores" e "eliminando a precariedade", entre outras medidas, como a criação efetiva de incentivos para os professores destacados para zonas onde o custo de vida é mais elevado, como em Lisboa e no Algarve.
Os dados recolhidos indicam que 22,6% das escolas que responderam não conseguiram completar o corpo docente ao longo de todo o 1.º período. Menos de metade das escolas (41,3%) conseguiram completar o corpo docente até final de setembro.
O levantamento foi feito no final do primeiro período, tendo sido validadas 208 respostas completas das escolas.
Entre 1 de setembro e 31 de dezembro, aposentaram-se 1.415 professores, que se juntaram aos 2.106 que tinham ido para a aposentação entre janeiro e agosto, sublinhou Mário Nogueira.
Os números foram divulgados no dia em que foi conhecida a palavra do ano, "Professor", divulgada pela Porto Editora, o que para a Fenprof é "um reconhecimento dos portugueses" ao papel dos professores.