A TSF segue os trilhos dos Mochileiros Carolina Calçada e Pedro Cerqueira, numa viagem de seis meses numa autocaravana pela Europa. Desta vez, o caminho passa pelo Canal da Mancha, Cambridge e Escócia.
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"Tínhamos delineado passar duas semanas entre Espanha e França, e, depois disso, passar para o Reino Unido. Já conhecemos alguns lugares em Inglaterra, mas foi a Escócia que nos fez querer atravessar para o outro lado. Pelas informações que recolhemos, quanto mais cedo comprássemos os bilhetes para o Eurotúnel, em Calais, mais baratos ficariam.
Contudo, como os dias numa autocaravana não são fáceis de prever - não temos horários e vamos deixando acontecer -, não marcámos os lugares com muito tempo de antecedência, apenas cinco dias antes. Pagámos, por isso, 304 euros, por ida e volta. Tínhamos bilhete para as quatro horas da manhã, por ser a opção mais barata, mas quisemos ir lá com alguma margem de tempo, e, ao fazermos o check-in, a máquina ofereceu-nos a hipótese de ir no comboio da meia-noite. Ficámos depois a saber que é normal quando se faz o check-in, caso haja lugares disponíveis nos comboios anteriores. Ou seja, conseguimos poupar dinheiro.
O check-in é realizado à entrada do pórtico, com a leitura da matrícula da reserva e confirmação dos dados num ecrã. De seguida, encontrámos outro pórtico, onde uma pessoa confirmava os cartões de cidadão, fazendo também algumas perguntas relativas à nossa visita ao Reino Unido. Por último, outro pórtico tem um funcionário que confirma a letra que nos foi dada e nos encaminha para a entrada correta. Aguardámos durante cerca de 15 minutos em fila. Depois, entrámos para o comboio que nos iria levar pelo famoso Canal da Mancha.
Para quem não sabe, há duas formas de passar o canal: de comboio ou ferry. Optámos pelo comboio, já que demora apenas 35 minutos, enquanto o ferry demora, aproximadamente, uma hora e meia. Foi uma viagem tranquila, rápida, apesar de, inicialmente, ser um pouco claustrofóbico, já que temos de ir dentro do nosso carro, que, por sua vez, vai dentro de um comboio. Das poucas janelas que tem, víamos tudo preto...Mas em 35 minutos estávamos em terras britânicas.
Para os dois primeiros dias, planeámos ficar em Cambridge, em casa de uns amigos, para assim restabelecermos energias, carregarmos baterias (nossas e dos gadgets), desfrutarmos da companhia dos nossos amigos, lavarmos roupas, darmos uma limpadela à Pingu e, obviamente, a nós, com uma banhoca de água bem quente. Enfim, foram dois dias sem contar quilómetros! Foi sem dúvida o melhor que fizemos. É muito importante saber quando parar, e nós estávamos a precisar. Viajar também é isto: visitar os amigos, pôr a conversa em dia, contar as aventuras... Ali passámos uns serões maravilhosos, quer a comer pipocas e a ver filmes, quer a jantar num restaurante tailandês, ou simplesmente a beber uma cerveja e a matar saudades uns dos outros. Sentimo-nos em casa, sentimo-nos bem recebidos, e é bom aquecer o coração numa casa onde nos querem bem, depois de tantos dias a sós na estrada. (Obrigado Pedro, Matilde, Martim e Lola!)
Seguimos então a nossa viagem com destino à Escócia, mas a distância era considerável, pelo que decidimos parar em York. Gostamos sempre de visitar a zona velha das cidades, e esta possui ainda partes da antiga muralha que a circundava no passado e uma catedral histórica com bonitos vitrais coloridos. Tal como fazemos sempre que chegamos a cidades grandes, fomos estacionar a Pingu fora (zona não paga) e, depois, fomos a pé para o centro. Conhecemos a Catedral e fizemos a caminhada pela muralha. Vale bem a pena, porque nos dá uma perspetiva completa da zona histórica e uma vista linda para a catedral. Fomos também caminhar pelo centro, por aquelas ruas com casas tipicamente inglesas, onde acabámos por entrar num pub, assistir à Champions League e beber uma cerveja. Esta experiência também foi espetacular, já que jogavam equipas inglesas e o ambiente estava ao rubro.
Não costumamos dormir em cidades grandes, por várias razões, mas, principalmente, pela dificuldade em estacionar, pelo barulho e pela insegurança. Preferimos sempre sair dos grandes centros, andar uns quilómetros para a periferia, e procurar um local mais tranquilo para pernoitar. Nestes casos, procuramos parques de estacionamento de supermercados ou de cadeias de restauração tipo MacDonald´s, KFC, etc. Aqui fecham sempre por volta das 22h00, o que torna o local tranquilo.
São zonas seguras, que, por norma, têm mais autocaravanas e... Wi-fi grátis acessível do estacionamento. Por isso, saímos da azáfama de York e fomos dormir para um parque com todos os serviços: restaurantes, bomba de gasolina e supermercado. Perfeito! Assim, de manhã, foi possível abastecermo-nos de tudo. (Os valores em Inglaterra são muito próximos aos de Portugal, tanto no supermercado como em combustíveis.)
Pusemo-nos à estrada bem cedinho, para mais umas horas de caminho, desta vez até Edimburgo. Estávamos muito ansiosos por pisar terras escocesas. O nosso principal objetivo era conhecer a parte mais rural, a que mais nos cativa, mas seria um desperdício vir cá e não conhecer a capital. Mais uma vez, deixámos a Pingu fora da cidade, numa zona não paga, e abastecemo-nos com umas sandes. (Geralmente, os preços praticados nestas cidades são exorbitantes). Depois, caminhámos até ao centro. A primeira impressão da cidade foi que era muito organizada e muito cuidada, com os edifícios todos semelhantes, sem qualquer choque de arquiteturas.
Aqui os principais pontos a visitar são:
- Royal Mile, uma sucessão de ruas que formam a principal via do centro histórico de Edimburgo. Como o nome sugere, a Royal Mile tem aproximadamente uma milha escocesa, e estende-se entre os dois pontos históricos da cidade: a partir do Castelo de Edimburgo até à Abadia de Holyrood;
- O Castelo de Edimburgo, a atração turística mais visitada do país;
- A Catedral de St Giles, situada na Royal Mile, num ponto intermédio entre o Castelo e o Palácio de Holyroodhouse;
- O Palácio de Holyroodhouse, residência de verão da Rainha Elisabeth.
A cidade é muito grande, mas é possível ver as grandes atrações andando apenas a pé. Passámos uma tarde deliciosa em Edimburgo, mas o que nós desejávamos encontrar na Escócia ainda não vimos ali.
Percorremos então durante mais umas horas para Norte, e fomos dormir a Dundee. Esta é a quarta maior cidade da Escócia, e foi construída ao redor de uma colina de basalto, hoje intitulada de "Dundee Law". E onde foram os mochileiros estacionar a Pingu para dormir? No topo da colina, exatamente no Dundee Law. É um miradouro de onde se pode ver toda a cidade, e a sua característica predominante é ter um vulcão extinto que lhe dá nome. Acordar, sair da Pingu e ter aquela vista...não tem preço! É fenomenal!
O nosso objetivo era chegar a Inverness, onde começa a Road que ansiamos fazer: North Coast 500. Mas, consultando o mapa, não pudemos deixar de fazer um desvio para visitar o famoso Dunnottar Castle. E valeu tanto a pena... Altivo, em posição dominante sobre o mar, no topo de uma falésia, deixou-nos de boca aberta.
Mais duas horas e meia de caminho, com planícies a perder a vista e casas que parecem castelos, começámos a sentir a Escócia que imaginávamos... e chegámos ao ponto de partida da grande aventura: Inverness. Aqui começa a North Coast 500, a rota que nos fez atravessar o Canal da Mancha. Estamos muito ansiosos pelo dia de amanhã, para conhecer as famosas terras altas: North Highlands of Scotland, como eles dizem por cá!
Sejam felizes,
Mochileiros"