A TSF está esta quarta-feira, em parceria com a Rede Portuguesa de Moinhos, a assinalar o Dia Nacional dos Moinhos. Sem Covid seria dia de abrir este património nacional às visitas. No ano passado, a iniciativa "Moinhos abertos" foi adiada e depois cancelada devido à Covid-19, mas este ano a Rede Portuguesa de Moinhos, em parceria com a TSF, está a abrir os moinhos à visita, na rádio.
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No concelho de Mira, bem perto da praia e da lagoa, existem várias rotas turísticas que envolvem moinhos, sendo os mais típicos apelidados de palafíticos, pois estão assentes em estacaria e, por isso, muito frágeis. Contudo, os que se mantêm ativos são os de rodízio, movidos também a água. Em Casal de São Tomé, a TSF foi conhecer o Moinho da Areia e, claro, o moleiro conhecido na Gândara como Manuel Reco.
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Entre moinhos de água, de vento ou de maré, Portugal tem vários milhares de exemplares. A contagem é difícil. Só no Oeste existem 900 moinhos de vento e, no centro norte, está identificado um moinho de água, por cada quilómetro quadrado de território.
Manuel Fresco, conhecido na Gândara como Manuel Reco, nasceu numa família de moleiros, mas só há oito anos está naquilo a que chama de arte, pois até aqui era empreiteiro. Aliás, foi ele quem reergueu das silvas o velho moinho, que agora dá nome à Quinta Moinho da Areia, em Casal de São Tomé, no concelho de Mira.
Na região, moinhos ainda há muitos, mas a trabalhar para fora já só há este, que ainda produz "a melhor farinha que existe, feita com milho regional": de milho branca ou amarela, de trigo, de centeio e até de arroz. "Faço consoante aquilo que a malta vai pedindo e já não é pouco", confessa. "Temos a zona da Lagoa, que tem muitos moinhos, mas praticamente só moem para eles, para fora só nós", acrescenta.
O moinho da Areia é de rodízio, movido a água, tem quatro mós no ativo e duas que podem ainda ser recuperadas. Manuel Reco admite que está atrasado na moagem, mas a mó não para e água há com fartura nesta altura do ano.
Anualmente, saem deste moinho, com mais de 300 anos, cerca de 30 toneladas de farinha. Manuel Reco não é o proprietário do moinho, também não era moleiro, por
Isso explica como chegou à moagem e à gestão do moinho da Quinta Moinho da Areia, em Mira. "Era empreiteiro e tinha feito o prédio do dono disto, que comprou esta propriedade, e ele não tinha quem lhe fizesse isto. Eu nasci encostado a moinho e sabia o que isto era e disse-lhe que via eu arranjar isto. Olhe que eu andei perto de um mês a acartar pedregulhos da beira mar para acertar as pedras (mós), porque isto tem de moer areia primeiro para a pedra relapar", explica. "Relapar" não existe em português, talvez seja gandarês, um dialeto típico desta região do país.
Está a moer há pelo menos 8 anos e é um bom exemplo de recuperação de património, como dá conta Jorge Miranda, da Rede Portuguesa de Moinhos. "Vão sendo cada vez mais, porque há um movimento de recuperação de moinhos em Portugal. Há hoje muito mais quantidade de moinhos a funcionar do que há 20 anos e quem está a manter este ofício e estes conhecimentos são os moleiros, que são uns resistentes", conta. Moleiros que, apesar da idade, vão ensinando os mais novos e acompanham o mercado.
Só no centro norte de Portugal há um moinho por cada quilómetro quadrado, o que mostra bem a importância deste património nacional. "Dos vários municípios onde fizemos levantamentos deu, mais ou menos, um moinho por quilómetro quadrado. São sistemas de baixa potência e de aplicação rural, pequeninos, orgânicos e muito ligados ao território, que fazem esta beleza que Portugal tem e que é praticamente irrepetível", acrescenta.
Em Mira, ao contrário deste que é de rodízio, os mais comuns eram os palafíticos. Jorge Miranda explica na reportagem áudio em que consistem.
A Rede Portuguesa de Moinhos foi fundada há 17 anos pelo próprio Jorge Miranda que, há mais de 30 anos, se dedica a recuperar moinhos. A iniciativa "Moinhos Abertos", no Dia Nacional de Moinhos, pretende colocar as pessoas a visitar os moinhos e é hoje percorrida na TSF. Um evento que, todos os anos, tem vindo a crescer. Em 2019, antes da Covid-19, foram colocados a funcionar 380 moinhos, num total de mais de 30 mil pessoas.
A quantidade que existe em Portugal é indefinida, mas "são imensos". Só no Oeste, onde está a ser traçado um plano de salvaguarda e de valorização para os moinhos, existem cerca de 900 moinhos de vento. Nos anos 60, foram inventariados cerca de 11 mil moinhos de vento em Portugal. Já os moinhos de água são "extremamente numerosos" e "estão espalhados por todo o território" nacional.
A estes, ainda somamos os moinhos de maré. No rio Tejo existe a maior mancha do mundo de moinhos de maré, existindo um ainda em funcionamento no Montijo. "Estamos a falar de uma mancha imensa, que está ligada aos nossos descobrimentos. Os moinhos acompanham o desenvolvimento da nossa história, das nossas artes e ofícios e da nossa indústria", explica.