Montepio passa de lucro a prejuízo de 56,8 milhões nos primeiros nove meses do ano
Banco culpa "os efeitos desfavoráveis de fatores exógenos induzidos pela pandemia Covid-19".
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O Banco Montepio divulgou esta sexta-feira que registou um prejuízo de 56,8 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, um valor que compara com o lucro de 17,7 milhões registado em igual período do ano passado.
Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o banco diz que a margem financeira se situou em 173,1 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2020, abaixo dos 180,4 milhões de euros registados no período homólogo do ano anterior.
Este valor incorpora, segundo o Montepio "os efeitos desfavoráveis de fatores exógenos induzidos pela pandemia covid-19 e que determinaram menores níveis de atividade nos clientes particulares e nas empresas, a par da manutenção de taxas de juro de mercado em níveis reduzidos e/ou negativos".
As comissões líquidas, por sua vez, totalizaram os 84,5 milhões de euros, também abaixo dos 87,1 milhões de euros do período homólogo de 2019, justificando o banco com a redução da atividade económica.
Os resultados em operações financeiras foram de 6,7 milhões de euros, significativamente menos do que os 46,9 milhões de euros de igual período de 2019.
Os outros resultados de exploração foram negativos em 10,2 milhões de euros, comparando com 1,3 milhões de euros positivos contabilizados no período homólogo de 2019.
Do lado dos gastos, os custos operacionais totalizaram 192,8 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2020, face aos 189,7 milhões de euros de período homólogo de 2019, "evidenciando os efeitos da atualização salarial e dos investimentos concretizados em renovação e modernização tecnológica no âmbito da transformação digital que o Banco Montepio tem em progresso, apesar das sinergias capturadas na renegociação de alguns contratos, em particular nos custos com consultoria e com conservação e reparação de imóveis", lê-se no comunicado.
Até setembro, foram postos de lado 140 milhões de euros para imparidades de crédito, mais 65,9 milhões de euros face ao valor de período homólogo de 2019, para fazer face ao risco e incumprimento de crédito causado pela pandemia covid-19.
Olhando para o balanço, o crédito (bruto) aumentou 2,1% face a setembro de 2019 para 12.491 milhões de euros, referindo o banco que o crescimento da carteira de crédito "foi efetuado num quadro de uma rigorosa disciplina de tomada de risco de crédito".
Já os depósitos caíram 1,8% para 12.346 milhões de euros.
No final de setembro, o grupo Banco Montepio tinha 3.927 trabalhadores em Portugal, menos 35 do que no mesmo mês de 2019. Na rede comercial, tinha 328 agências (menos três do que há um ano).
A redução de trabalhadores e sucursais do banco neste período é pouco significativa, contudo, é já conhecido que o banco está num processo de reestruturação e que deverão sair entre 600 a 900 trabalhadores nos próximos anos.
Esta semana, um grupo de associados da Associação Mutualista Montepio Geral (dona do banco Montepio) lançou um apelo ao Governo para intervir de forma no grupo, considerando que tal é urgente e que não está ao alcance da atual administração, que tem de ser substituída.
Este grupo de associados inclui João Costa Pinto (ex-administrador do Banco de Portugal e atual membro do Conselho Geral da mutualista), Eugénio Rosa (ex-membro do Conselho Geral da mutualista), Viriato Silva (membro do Conselho Geral da mutualista), Mário Valadas (professor universitário), Fernando Ribeiro Mendes (ex-administrador da mutualista e candidato a presidente nas últimas eleições) e João Proença (ex-líder da UGT).
Sobre de que modo poderia ser feita uma intervenção no grupo Montepio, João Costa Pinto disse o coletivo não tem uma solução mas considerou que, em sua opinião, tendo em conta que os desequilíbrios na mutualista vêm das perdas registadas no banco Montepio, uma solução seria o reequilíbrio do banco com a passagem para um veículo (um 'banco mau') dos ativos problemáticos (crédito malparado e imóveis).
Assim, considerou, o banco ficaria liberto desse peso e também libertaria capital para poder voltar a ter um papel ativo no sistema bancário comercial.
Contudo, afirmou, essa operação pode ser articulada com outro tipo de operações, por exemplo, de aumento de capital.
O importante -frisou - é que "no final seja garantido o controlo do banco pela Associação Mutualista".
Em reação, a liderança da mutualista (cujo presidente é Virgílio Lima) manifestou "estranheza e repúdio", considerando um apelo um "ataque à estabilidade" do grupo e uma "estratégia de disputa de poder".