Estudo internacional alerta para "escalada" de mortes em sofrimento grave. Envelhecimento, cancros e demências podem fazer o problema aumentar ainda mais em Portugal.
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O aumento do número de casos em que as pessoas morrem em sofrimento grave, previsto para as próximas décadas, pode ser ainda mais acentuado em Portugal.
A preocupação é de Bárbara Gomes, uma das duas autoras portuguesas de um estudo internacional agora publicado numa prestigiada revista científica, a The Lancet Health.
O trabalho alerta para o duplicar, até 2060, das pessoas a morrerem no mundo sem acesso a cuidados paliativos - 47% das mortes, 48 milhões de pessoas por ano, o dobro daquilo que hoje acontece.
Bárbara Gomes, que a par de outra portuguesa, Maja de Brito, esteve envolvida na investigação, explica à TSF que pela primeira vez foi quantificado o número de pessoas afetadas pelo sofrimento no momento da morte, chamando a atenção para um escalar de sofrimento no mundo caso nada seja feito para apoiar pessoas que podem ter cuidados paliativos no fim de vida, diminuindo sintomas físicos e psicológicos".
Em Portugal o problema pode ser mais grave, refere a Bárbara Gomes, porque a população está cada vez mais envelhecida (e vai envelhecer ainda mais), "sendo já um dos países mais envelhecidos do mundo, numa população com idade avançada muito afetada por cancro e demência", doenças que se não forem acompanhadas de cuidados paliativos aumentam o sofrimento de quem está a morrer.
Segundo o estudo, em 2016 cerca de 26 milhões de pessoas morreram em sofrimento pelo Mundo, número que pelas estimativas chegará a 48 milhões em 2060, num aumento de 87%
Globalmente, o sofrimento grave relacionado com saúde aumentará mais rapidamente entre pessoas com mais de 70 anos, numa subida de 183% em pouco mais de quatro décadas.
O aumento das mortes em sofrimento, segundo o estudo, "será impulsionado pela subida de mortes por doenças oncológicas, mas a condição de saúde com maior aumento relativo será a demência".
Em reação a este estudo, a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos já sublinhou que "esta é a primeira projeção mundial conhecida sobre a carga de sofrimento que é elegível para prestação de cuidados paliativos e que traça um quadro muito preocupante, quase dramático sobre o futuro dos cuidados de saúde em diversas regiões, onde se inclui Portugal, com um aumento exponencial da carga de doença, da morbimortalidade e das necessidades paliativas das populações".