"Profundamente isenta e independente." Morreu Teodora Cardoso, ex-presidente do Conselho de Finanças Públicas
Tinha 81 anos e foi a primeira líder do organismo.
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A economista e primeira presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, morreu este sábado em Lisboa aos 81 anos, disse à Lusa fonte Banco de Portugal.
Nascida em Estremoz, licenciada em Economia pelo Instituto Superior de Economia, Teodora Cardoso desenvolveu grande parte da sua carreira no Banco de Portugal e estava já reformada.
Foi economista do banco central durante quase duas décadas, chefiou o Departamento de Estatísticas e Estudos Económicos, foi consultora da administração e administradora entre 2008 e 2012.
Entre março de 1973 e setembro de 1992 esteve no Departamento de Estatística e Estudos Económicos, com funções de coordenadora do núcleo de Economia Monetária, Diretora de Departamento e Consultora da Administração.
Além disso, participou em vários projetos do banco central, nomeadamente na elaboração da Lei Orgânica do Banco de Portugal (1975) e na reformulação geral das estatísticas monetárias (1976/1977).
Esteve envolvida na negociação dos acordos de estabilização com o Fundo Monetário Internacional (1984/1985) e representou o Banco de Portugal no Sub-Comité de Política Monetária do Comité de Governadores da Comunidade Europeia, de 1990 a 1992.
Em 1992, passou a trabalhar para o Banco Português de Investimento, onde foi consultora da administração até 2008, segundo a biografia patente na página do Conselho de Finanças Públicas, organismo que nasceu na sequência do programa de ajustamento financeiro, e a que presidiu entre 2012 e 2019.
"Figura ímpar, única pela forma como sempre defendeu o interesse do país"
Foi substituída no CFP pela professora universitária Nazaré da Costa Cabral que, em declarações à TSF, destacou Teodora Cardoso como uma "figura ímpar, única pela forma como sempre defendeu o interesse do país acima de qualquer outro tipo de interesses, com toda a sua convicção, com uma grande seriedade, um grande rigor, uma grande lucidez na análise dos problemas do país, das suas vulnerabilidades e, ao mesmo tempo, propondo soluções e respostas de uma forma sempre muito convicta e com toda a sua isenção".
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A atual líder do CFP elogia também Teodora Cardoso como "uma mulher profundamente isenta, profundamente independente e que nunca serviu interesses particulares", cujo "objetivo e a missão de vida, por assim dizer, foi servir o país".
"É uma grande perda para todos nós", lamenta Nazaré da Costa Cabral, que se assume "profundamente triste e muito abalada" com a morte da economista. Sobre o CFP, destaca que a instituição "deve muito, praticamente tudo", ao trabalho de Teodora Cardoso, "à sua iniciativa e à sua ousadia".
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Para lá do mundo económico, Nazaré da Costa Cabral recorda uma "mulher de uma grande cultura, com quem dava gosto e gozo falar", porque sabia "imenso sobre o país e sobre a economia internacional".
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"Era uma mulher com conhecimento profundo da História mais recente, da História passada, uma mulher muito, muito interessante. Era uma pessoa também sempre muito racional, muito lúcida, dizia as coisas com objetividade sem estar com o receio de confrontar este ou aquele interesse: uma pessoa de facto extraordinária", reconhece.