O antigo governador tinha 95 anos e morreu no hospital de São José, em Lisboa, depois de ter sofrido uma queda.
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Morreu Carlos Melancia, ex-governador de Macau. A notícia foi avançada pela RTP e confirmada pela família à Lusa. O antigo governador morreu no hospital de São José, em Lisboa, para onde foi transportado após uma queda. Tinha 95 anos.
Licenciado em Engenharia, foi governador de Macau de 1987 a 1991 e ministro com as pastas da Indústria e Tecnologia, do Mar e Equipamento Social em vários governos socialistas.
Em 1991, demitiu-se na sequência do designado Caso do Fax de Macau, que envolvia financiamentos partidários do PS, um processo de que foi ilibado em 2002. Pelo meio, exerceu funções de deputado eleito pelas listas do PS de Leiria, entre 1985 e 87.
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Enquanto governador de Macau, apostou no desenvolvimento da segurança social e da criação de grandes infraestruturas como o aeroporto, obra envolvida no caso que o levaria a tribunal.
Em 1989, na sequência do levantamento de suspeitas de corrupção, Carlos Melancia solicitou a exoneração do seu cargo, sendo substituído por Murteira Nabo.
Entretanto, Carlos Melancia foi julgado mas nada ficou provado, tendo sido absolvido em janeiro de 1994. O Ministério Público recorreu, mas em outubro de 2002 o Supremo Tribunal de Justiça indeferiu os dois recursos interpostos, dando por encerrado o processo judicial. Já tinha, então, regressado à atividade de gestor e empresário.
Na sua última entrevista, feita à agência Lusa em 2019, Carlos Melancia recordou a sua gestão do território que já tinha data de entrega para a China acertada entre os dois países.
A Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau foi assinada a 13 de abril de 1987, há 35 anos, e Carlos Melancia tomou posse como governador do território em julho desse ano, já para fazer cumprir o projeto de transferência da administração do enclave, que se concretizou em 1999.
Segundo o antigo governador, o que pretendia tanto a China como Portugal era que o território tivesse e caminhasse para a autonomia financeira, tendo sido feitos 300 milhões de euros de investimentos.
Exemplos dessa aposta na autonomia foi a construção do aeroporto para combater o estrangulamento dos transportes e a conclusão dos hospitais Chinês e de São Januário.
"Eu negociei isto tudo, mas quem acabou por os concluir [os projetos] foi o Rocha Vieira", disse então Melancia, referindo-se ao governador que o substituiu no cargo e que geriu o território até à transição da administração.