Costa Braz, um combatente da corrupção "com apetência política" e "desapego ao poder"
O militar de Abril morreu de doença prolongada, aos 85 anos.
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Manuel Costa Braz morreu esta terça-feira, aos 85 anos, vítima de doença prolongada.
A notícia da morte foi avançada pela SIC Notícias .
O militar esteve envolvido no golpe que deu origem ao 25 de Abril, e fez parte do Grupo dos 9, que instaurou o regime democrático em 1975.
Costa Braz foi ainda ministro da Administração Interna em governos de transição. Mais tarde, integrou os governos de Mário Soares e de Maria de Lurdes Pintasilgo.
Para além de ter sido o primeiro Provedor de Justiça português, entre 1983 e 93, foi o responsável pelo primeiro recenseamento eleitoral em Portugal nas primeiras votações livres do país. Um dos grandes combatentes da corrupção, Manuel Costa Braz foi também Alto-comissário.
Apesar de ter desempenhado vários cargos, Costa Braz tinha desapego ao poder.
Vasco Lourenço, elemento do Movimento das Forças Armadas (MFA), em declarações à TSF, destacou o papel do militar na construção, não só do ideal democrático, como dos pilares concretos sobre os quais a liberdade se construiu. "O apogeu da ação política dele, dada a enorme importância que teve em todo o processo, foi a organização do processo eleitoral para a Assembleia Constituinte. É Costa Braz, como ministro da Administração Interna, que desempenha esse cargo, coordena uma equipa extraordinária que fez uma tarefa gigantesca: aquelas eleições de 1975", lembra o também militar português.
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Sobre o primeiro ato eleitoral, já no decurso de 1975, Vasco Lourenço fala de momentos que "ficaram na história de Portugal" e que "foram a peça fundamental para a construção de um regime democrático que ainda hoje felizmente vigora em Portugal".
Sempre sonhou com um Portugal mais livre e mais democrático, em que a conduta das entidades públicas se pautasse pelo escrupuloso respeito das regras éticas.
"Podia depois ter sido aproveitado pelo poder político, até porque ele tinha alguma apetência para a intervenção política. No entanto, como era autónomo e independente partidariamente, nunca foi aproveitado dessa forma, como muitos militares de Abril", aponta o admirador de Costa Braz, que lamenta ainda: "A sociedade portuguesa tem aproveitado muito pouco, e já não dá para aproveitar muito, porque muitos deles vão desaparecendo. Os outros estão velhos."
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Vasco Lourenço elogia, ainda assim, a ausência de desejo de autoridade por parte de Costa Braz. "Apesar de ter desempenhado vários cargos, Costa Braz tinha desapego ao poder."
O Presidente da República também já reagiu à morte do militar, e descreveu Manuel da Costa Braz como um "português de exceção, que amava o seu País e sempre sonhou com um Portugal mais livre e mais democrático, em que a conduta das entidades públicas se pautasse pelo escrupuloso respeito das regras éticas de transparência e dos direitos e das liberdades dos cidadãos".
Manuel da Costa Braz foi um português conhecido pela verticalidade de caráter e pelo seu sentido patriótico do dever.
Marcelo Rebelo de Sousa salienta-lhe "a discrição que é timbre dos homens dignos e conscientes de que ao seu País sempre deram o melhor de si, sem olhar a cargos nem recompensas".
"Manuel da Costa Braz foi um português conhecido pela verticalidade de caráter e pelo seu sentido patriótico do dever, que deixa um rasto de enorme saudade em todos quantos o contactaram de perto e tiveram o privilégio de o conhecer", pode ler-se também na nota da Presidência da República .
Para o Presidente, com a morte de Costa Braz, "desaparece uma das figuras marcantes da génese da democracia portuguesa, um militar e um cidadão a quem o País tanto deve e cujo exemplo de vida deve ser conhecido e cultivado pelas gerações mais jovens".
* Notícia em atualização