Marcelo Rebelo de Sousa recorda Mega Ferreira como "uma das figuras mais dinâmicas da cultura portuguesa do último meio século". Já António Costa lembra "um dos grandes mentores da Lisboa contemporânea" que "sonhou e concretizou a Expo 98".
Corpo do artigo
Morreu aos 73 anos António Mega Ferreira, confirmou à TSF fonte próxima do escritor e antigo gestor da Expo 98.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já emitiu uma nota de condolências, recordando Mega Ferreira como "um amigo de sempre" e "uma das figuras mais dinâmicas da cultura portuguesa do último meio século".
"Todos conhecem o seu papel na Expo 98, que não foi só um evento temporalmente situado, mas um momento transformador de Lisboa, a cidade sobre a qual Mega Ferreira apaixonadamente escreveu. O trabalho de António Mega Ferreira enquanto gestor (na Expo, depois no CCB, mais tarde na Metropolitana) deixaram um pouco na sombra o escritor, ainda que, nas últimas duas décadas, se notasse um renovado empenho nas obras de criação, fossem poemas, romances biográficos, livros de crónicas ou de viagens, monografias, ensaios cultos, até ao seu último livro, um dicionário de palavras que deixámos de usar, mas que mantêm o travo da história vivida e da História coletiva", pode ler-se numa nota publicada no site da Presidência.
O chefe de Estado refere-se ainda a "um dos melhores da sua e minha geração no campo da cultura. Presto-lhe a minha homenagem sentida".
Questionado pelos jornalistas na Serra da Estrela, Marcelo Rebelo de Sousa despiu a pele de Presidente da República durante alguns segundos e recordou o grande amigo e colega de liceu e de faculdade.
"Fizemos parte dos mesmos grupos durante sete anos de liceu e cinco de faculdade. Conheço a vida dele mesmo antes dos sucessos que teve na cultura em Portugal, desde crianças, adolescentes e jovens, sempre juntos. Fizemos uma vida junta, portanto perco um grande, grande amigo e o país perde um homem muito culto, muito inteligente, sensível para os livros, cinema, teatro, montar a Expo, dirigir e presidir o Centro Cultural de Belém. É muito raro encontrar uma pessoa assim tão completa no mundo da cultura", lembrou o Presidente.
TSF\audio\2022\12\noticias\26\marcelo_rebelo_de_sousa_13h00_sobre_mega
"O homem que realizou o sonho" da Expo 98
Em declarações à TSF, Simoneta Luz Afonso, comissária de Portugal na Expo 98, fala num "grande escritor e homem de letras", descrevendo Mega Ferreira como "uma pessoa encantadora", "incansável" e "um homem que conseguiu realizar aquilo que sonhou".
TSF\audio\2022\12\noticias\26\simoneta_luz_afonso
"Um dos grandes mentores da Lisboa contemporânea"
Já o primeiro-ministro, António Costa, lembra Mega Ferreira como "um notável jornalista e importante pensador e criador cultural".
"Ficará para sempre como um dos grandes mentores da Lisboa contemporânea. Sonhou e concretizou a Expo-98. Não como evento, mas como uma nova parte da cidade que amava", escreveu o chefe de Governo na rede social Twitter.
António Mega Ferreira foi um notável jornalista e importante pensador e criador cultural. Ficará para sempre como um dos grandes mentores da Lisboa contemporânea. Sonhou e concretizou a Expo-98. Não como evento, mas como uma nova parte da cidade que amava.
- António Costa (@antoniocostapm) December 26, 2022
Enriqueceu o "espaço público"
O presidente da Assembleia da República agradeceu a António Mega Ferreira por ter enriquecido o espaço público com um novo olhar sobre áreas como o oceano, a literatura ou a história.
"Como jornalista, ensaísta, escritor e gestor, António Mega Ferreira marcou o nosso espaço público. As suas ideias e realizações enriqueceram-nos, levando-nos a olhar de outro modo para o oceano, a história, a literatura e as artes. Obrigado, Mega!", escreveu Augusto Santos Silva, numa publicação na rede social Twitter.
Como jornalista, ensaísta, escritor e gestor, António Mega Ferreira marcou o nosso espaço público. As suas ideias e realizações enriqueceram-nos, levando-nos a olhar de outro modo para o oceano, a história, a literatura e as artes. Obrigado, Mega!
- Augusto Santos Silva (@ASantosSilvaPAR) December 26, 2022
"Um homem do Renascimento"
Ouvido pela TSF, João Duarte Rodrigues, editor da Sextante, destaca a obra "muito ampla e de criação própria" de Mega Ferreira. "Um homem do Renascimento e de livre pensamento", sublinha.
TSF\audio\2022\12\noticias\26\joao_duarte_rodrigues_13h00
Um "pensador de rasgo cosmopolita"
Para o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, António Mega Ferreira "deixa uma marca indelével na sociedade portuguesa".
"Foi um extraordinário intelectual público e um brilhante gestor cultural, uma combinação absolutamente incomum e que o distingue no panorama cultural português", afirmou o ministro, em comunicado.
"Foi um pensador de rasgo cosmopolita dotado de singular criatividade e notável capacidade de execução. Por tantas razões, deixa um grande legado ao País e permanecerá como exemplo", escreveu o ministro.
Homem "absolutamente extraordinário" que "mudou imenso" Lisboa
Manuel Salgado foi um dos arquitetos que trabalhou com António Mega Ferreira na Expo 98 e recorda-o como alguém "absolutamente extraordinário".
"Pela sua capacidade de ouvir as pessoas, entender as várias propostas que eram apresentadas mesmo que não fossem a sua especialidade, mas principalmente porque tinha uma visão de futuro e percebia muito bem aquilo que a intervenção na Expo podia ser para a Lisboa pós-Expo. Esse foi o principal legado, essa visão que permitiu a todos os que estavam a trabalhar que estivessemos mais preocupados com aquilo que seria o Parque das Nações, depois da exposição, do que propriamente com a exposição. A exposição foi um sucesso, não é isso que está em causa, mas sucesso maior ainda foi o que aconteceu depois: construiu-se uma parte nova, moderna, vida da cidade de Lisboa e isso deve-se essencialmente a essa visão do António Mega Ferreira. Mudou imenso e os lisboetas percebem", recorda à TSF Manuel Salgado.
TSF\audio\2022\12\noticias\26\manuel_salgado_13h
António Mega Ferreira, escritor, gestor e jornalista, nasceu em Lisboa em 1949, estudou Direito e Comunicação Social, foi jornalista no Jornal Novo, no Expresso, em O Jornal e na RTP, onde chefiou a redação da Informação do segundo canal, foi chefe de redação do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, e fundou as revistas Ler e Oceanos.
TSF\audio\2022\12\noticias\26\maria_a_casaca_mega_f
Chefiou a candidatura de Lisboa à Expo 98, de que foi comissário executivo. Foi presidente da Parque Expo, do Oceanário de Lisboa e da Atlântico, Pavilhão Multiusos de Lisboa.
Entre 2006 e 2012, presidiu à Fundação Centro Cultural de Belém e, de 2013 a 2019, desempenhou as funções de diretor executivo da AMEC/Metropolitana.
Tem cerca de 40 obras publicadas, entre ficção, ensaio, poesia e crónicas.
Notícia atualizada às 13h54