Conhecido como "a Besta", Toto Riina espalhou o terror durante quase 20 anos na Sicília e dentro da Cosa Nostra, a máfia siciliana.
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O padrinho da máfia siciliana Toto Riina morreu na última quinta-feira (dia do seu aniversário), aos 87 anos, na ala prisional de um hospital de Parma, no norte de Itália, confirmou o Ministério da Justiça italiano.
Riina, que cumpria 26 penas de prisão perpétua e alegadamente ordenou mais de 150 assassinatos, passou os últimos dias em coma.
A esposa e três dos quatro filhos de Toto Riina receberam uma autorização excecional do Ministério da Saúde da Itália para se despedirem dele.
Giovanni, o filho mais velho, está a cumprir uma pena de prisão perpétua por quatro assassinatos.
Riina havia pedido, em julho, para ser libertado da prisão, alegando doença grave. O pedido foi rejeitado pelo tribunal, que entendeu que os cuidados que recebia atrás das grades eram tão bons quanto aqueles que poderia reivindicar fora da prisão.
Os médicos disseram na época que o ex-líder do clã estava "lúcido".
Colocado sob escuta, Riina foi gravado este ano a afirmar: "Não me arrependo de nada, eles nunca me vão quebrar, mesmo que me deem 3 mil anos" de prisão.
Uma vida a "apadrinhar"
Tráfico de droga, sequestro e agressão: Riina assumiu o controlo de todos os setores tradicionais da Cosa Nostra. Para estabelecer o poder de seu clã - os Corleone -, deu início no início dos anos 80 a uma guerra sangrenta, com centenas de mortes, contra as antigas famílias de Palermo.
Esta guerra terminou com a vitória de Riina, que se tornou chefe da "Duma" (executiva da Cosa Nostra) em 1982, e marcou o início de uma campanha de violência contra funcionários do Estado.
Riina ordenou os assassinatos dos juízes antimáfia Giovanni Falcone (1992) e Paolo Borsellino (1993) e organizou os mortíferos ataques de 1993 em Roma, Milão e Florença (10 mortos no total).
Nos anos 90, a autoridade do Estado italiano vacilou, mas conseguiu recuperar através do fortalecimento do seu arsenal legislativo, com uma secção antimáfia especializada na luta contra o crime organizado, da Cosa Nostra, mas também da 'Ndranghetta, na Calábria, da Camorra, na região da Campânia, ou da Sagrada Coroa Unida (Sacra Corona Unita), organização que atava na região da Apúlia.
"Com a sua estratégia de massacres sangrentos na Sicília e em Itália... ele [Toto Riina] tornou a máfia visível, com centenas de assassinatos, primeiro usando 'kalashnikovs' e depois com recurso a bombas ", afirma Attilio Bolzoni, especialista em máfia do jornal La Republica.
Máfia continua, mas menos sanguinária
A máfia siciliana Cosa Nostra ainda está longe de ser dominada, de acordo com os magistrados, mas tem sido muito mais discreta, renunciando às execuções e crimes de sangue da época Riina.
"Já não há homicídios, ou são raros", explicou recentemente Ambrogio Cartosia, magistrado que trabalhou mais de 20 anos na secção antimáfia.
A máfia não desapareceu, pelo contrário, "parece-me que está muito mais presente do que antes nas estruturas políticas, assumiu o controlo do território. Atua é de forma diferente. Não é militar, é menos sanguinária, mas muito eficaz ", acrescentou.