A Associação Mais Proximidade apoia mais de uma centena de idosos, que vivem sozinhos na baixa de Lisboa. No ano passado, foram apoiadas 144 pessoas, o número mais elevado desde que a Associação foi criada, e há dezenas em lista de espera.
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É quase preciso trepar os degraus íngremes do prédio antigo, sem elevador, para chegar à porta de Maria Luísa Carvalho.
Viúva há 20 anos, Maria Luísa vive sozinha na casa para onde se mudou quando tinha 5. Agora, soma 91 e não pensa sair deste prédio, na zona da baixa de Lisboa. É este o raio de acção da Associação Mais Proximidade, que foi criada há cerca de oito anos, para apoiar idosos em situação de isolamento ou solidão.
Maria Luísa é acompanhada há cerca de um ano. Todas as semanas, recebe a visita da gerontóloga Patrícia Silva, que lhe prepara a medicação, assegura o acompanhamento médico e lhe faz companhia. "Sinto-me muito só", confessa Maria Luísa. "Todos foram indo" e mesmo na rua, antes cheia de gente, "os prédios ficaram vazios". A solidão agravou-se com a pandemia. "Estive um ano inteiro sem sair de casa", recorda Maria Luísa, que enfrentou problemas graves de saúde. Além de ter estado infectada com Covid-19, teve uma paragem cardio-respiratória, que a tornou ainda mais vulnerável. "Morri aqui nesta casa", lembra com alguma "melancolia" na voz e no olhar.
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Actualmente, toma cerca de quinze comprimidos por dia e uma das tarefas de Patrícia Silva é preparar as caixas de comprimidos coloridas, para três semanas. Maria Luísa agradece o cuidado e o mimo, chamando-lhe "Doutorinha". "É muito querida", sorri, enquanto segura as mãos da gerontóloga.
78% das pessoas apoiadas pela Associação Mais Proximidade são mulheres, com uma idade média de 84 anos.
84% não têm cônjuge. 60% vivem sozinhos e 47% foram considerados como estando em situação de isolamento.
A presidente da direcção, Mafalda Soure, explica que "não é possível integrar" mais idosos neste apoio, porque além da falta de recursos, quase sempre a Mais Proximidade acompanha estas pessoas "até ao fim da sua vida". Daí, a lista de espera que, nesta altura, tem 23 idosos. No ano passado, 18 pessoas tiveram de ser encaminhadas para outras instituições e, habitualmente, apenas se abre uma vaga com a morte de um dos utentes apoiados.
Mafalda Soure admite que gostaria de alargar o projecto a mais idosos e outras áreas geográficas, porque "o problema da solidão e do isolamento não é exclusivo nem sequer de Lisboa, quanto mais da baixa e da Mouraria. É um problema transversal e temos de perceber qual o caminho para criar uma sociedade para quem estas pessoas não são invisíveis e não vivem apenas num quarto andar sem elevador, onde ninguém as vê, ninguém sabe onde estão nem o que precisam".
Em 2021, foram apoiadas 144 pessoas, o número mais elevado de sempre desde que a Associação foi criada.
Actualmente, estão referenciados 23 idosos, que aguardam por uma resposta para combater a solidão e o isolamento, no centro histórico de Lisboa.
* A autora não segue as regras do novo Acordo Ortográfico