Portugal está melhor em matéria de Direitos Humanos, mas o crescente discurso de ódio trouxe algum retrocesso. O balanço é da Amnistia Internacional Portugal, que faz 40 anos.
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Quarenta anos depois, ainda há muito caminho a percorrer. Pedro Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional (AI) Portugal, lamenta que a pena de morte, a discriminação e as manifestações de racismo continuem a ser uma realidade.
"Não esperava continuar a ver manifestações de racismo, haver pessoas que discriminam outras pela cor da pele ou pela forma dos olhos, a discriminação de género ou dos mais pobres", desabafa.
"Passados 40 anos, também não esperava ver ainda existir a pena de morte no código penal de alguns países, mas desde que a AI começou a trabalhar, metade dos países aboliram a pena de morte e os números estão a diminuir. Tenho esperança de chegar ao dia em que a pena de morte estará abolida em todo o mundo", refere.
Pedro Neto lamenta ainda a fragilidade da condição humana. "Nunca como hoje houve tantos migrantes e refugiados à força. Nos últimos dias, temos visto ataques em Israel, na Faixa de Gaza, onde centenas de civis são vitimas deste conflito sem sentido", aponta.
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Portugal evoluiu em matéria de direitos humanos, mas, nos últimos anos, há uma nova ameaça. "Se olharmos ao longo dos anos, estamos muito melhores, a literacia, o acesso à saúde, educação, etc, melhorou muito em 40 anos. No entanto, hoje vivemos um tempo de polarização, em que o discurso de ódio é mais sem vergonha, impõe-se com ruído, e nesse aspeto estamos pior, nos últimos quatro anos recrudescemos."
O diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal aponta a morte de Ihor Homeniuk como um dos momentos mais trágicos da história recente: "É um acontecimento trágico, que congrega tudo o que de pior temos em Portugal: a discriminação, a violência e a não proteção das pessoas".
Para o futuro, Pedro Neto acredita que o desafio passa por continuar a tentar eliminar a discriminação e a pobreza. "O fenómeno da multidiscriminação é o maior desafio em Portugal e no mundo, a pobreza é um portão muito forte que não deixa as pessoas desenvolverem a vida e usufruírem dos direitos humanos. Acesso à habitação, educação, alimentação, saúde... nesta pandemia vimos que quem não tem acesso a isto vive com muitas mais dificuldades."
Pedro Neto afirma que o segredo da Amnistia é ser uma organização não-governamental (ONG) que se afirma pelo trabalho de milhares de pessoas, de diferentes quadrantes políticos e religiosos, que lutam por um mundo mais justo para todos.
A secção portuguesa da Amnistia assinala hoje 40 anos, mas os festejos ficam para o final do mês, quando passam 60 anos da fundação da Amnistia Internacional.