Morte no aeroporto. Diretora do SEF "não faria mal em pronunciar-se" sobre acusação de homicídio
É o "conselho" de Daniel Sanches, que dirigiu a instituição no final dos anos 80. O antigo ministro da administração interna pensa que o caso apenas "belisca" a imagem do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
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Daniel Sanches defende que o caso da morte de um ucraniano nas instalações do SEF no aeroporto de Lisboa, em março, belisca, mas não afeta irremediavelmente a imagem desta polícia.
No final de setembro, concluída a investigação, o Ministério Público decidiu acusar três inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, de homicídio qualificado. Uma acusação sobre a qual a diretora geral do SEF, Cristina Gatões, continua sem dizer uma palavra.
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Numa entrevista à TSF, o homem que dirigiu o SEF entre 1988 e 1994 sublinha que desconhece o motivo desse silêncio e até compreende que possa haver uma explicação válida.
Mas concorda que o silêncio pode levar a polémicas desnecessárias. Daí que considere que "muitas vezes, o silêncio não é o melhor caminho (...) julgo que não faria mal pronunciar-se".
Uma acusação "preocupante"
Daniel Sanches considera que se trata de um caso "muito grave", e de uma acusação "preocupante", mas lembra que não é inédito na história das polícias. Defende que situações como esta deixam "beliscada a sua honorabilidade", mas são "casos isolados", já que não podem servir de ponto de partida para condenar "globalmente" a instituição.
O antigo diretor do SEF sublinha que não conhece o processo, nem "as provas", só sabe o que lê nos jornais, e acentua que é preciso esperar pelo resultado do julgamento.
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Daniel Sanches passou pela Polícia Judiciária, pelo Serviço de Estrangeiros, pelo Serviço de Informações e Segurança e haveria de subir a Ministro da Administração Interna em 2004, no governo de Pedro Santana Lopes.
Foi no seu tempo que o Serviço de Estrangeiros deixou de ser uma estrutura apenas administrativa, para passar a incluir a componente policial, fiscalizadora das fronteiras.
"Ensaios" para uma rota "consistente"
É assim que Daniel Sanches encara os vários desembarques de ilegais no Algarve, desde dezembro de 2019. Não tem dúvidas de que se trata de uma nova rota de imigração ilegal, que pode tornar-se ainda mais preocupante, se o número de pessoas que chega continuar a aumentar.
Esses desembarques são uma espécie de "ensaios" para se criar uma "rota mais consistente", afirma. Uma situação que só pode ser combatida com uma forte colaboração entre os Estados, da qual o acordo que está a ser negociado entre Portugal e Marrocos é uma peça essencial.
Desde o final do ano passado, quase uma centena de pessoas chegou à costa algarvia, em seis desembarques ilegais. O mais recente aconteceu em meados de setembro, na ilha Deserta, em Faro.