Mosquito que pode transmitir dengue e zika identificado em Lisboa. DGS reforça vigilância
A autoridade de saúde sublinha que, até agora, não foram identificados nestes mosquitos "quaisquer agentes de doenças que possam ser transmitidas às pessoas" e, por isso, "não se justifica a definição de recomendações à população".
Corpo do artigo
A espécie de mosquitos Aedes albopictus, que pode transmitir doenças como chikungunya, dengue e zika, foi identificada pela primeira vez no Município de Lisboa, avançou esta quarta-feira a Direção-Geral de Saúde (DGS).
A presença desta espécie em Portugal "não é inédita", tendo sido identificada pela primeira vez no país em 2017, na região Norte e, posteriormente, na Região do Algarve, em 2018 e Alentejo, em 2022. Ainda assim, e apesar de não terem sido identificados nestes mosquitos "quaisquer agentes de doenças que possam ser transmitidas às pessoas", nem terem sido registados "casos de doença humana até ao momento", a DGS adianta que já "reforçou a vigilância entomológica e epidemiológica".
Foram ainda implementadas medidas para controlar a população de mosquitos identificada no "âmbito da vigilância entomológica".
"À data, não existe risco acrescido para a saúde da população, pelo que não se justifica a definição de recomendações à população", lê-se no comunicado envidado esta quarta-feira às redações.
A monitorização e a avaliação da situação estão a cargo dos Serviços de Saúde Pública "de nível regional e local", em articulação com a DGS e o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
"Se houver aqui alguma catástrofe temos de pensar no que é que pode acontecer"
A diretora-executiva do Instituto de Medicina Molecular, Maria Manuel Mota, considera que este aparecimento é resultado das alterações climáticas, mas sublinha que não há motivos para "alarmismos".
TSF\audio\2023\09\noticias\27\maria_manuel_mota_1_alarmismos
"Obviamente tem sempre motivos para preocupação, mas sem alarmismos. É óbvio que este tipo de acontecimentos está a acontecer, há alterações climáticas. Este tipo de mosquitos que estavam muito confinados a toda a região à volta do Equador estão a subir, não é a primeira vez", explica, em declarações à TSF, adiantando que durante agosto foi alertando para o facto de as autoridades francesas terem "formigado várias regiões da cidade de Paris para se libertarem destes mosquitos".
A cientista portuguesa afirma, ainda, que nos últimos dois anos tem havido casos de dengue "relativamente significativos" em França e apela à ação.
"Está a acontecer e temos de nos preocupar, mas não é preciso alarmismos. É preciso preocuparmo-nos como termos uma ação", insiste.
TSF\audio\2023\09\noticias\27\maria_manuel_mota_2_preparar_hospitais
Maria Manuel Mota defende, assim, que é preciso preparar hospitais e centros de saúde no caso de a espécie evoluir, sublinhando, contudo, que "para haver transmissão, tem de haver casos".
"Temos de ter noção que se houver aqui alguma catástrofe, qualquer coisa deste tipo, temos de pensar no que é que pode acontecer nesses casos", considera, afirmando que o facto da autoridade de saúde já ter identificado a presença da espécie em território luso e ter descartado a hipótese haver agentes infecciosos é "bom sinal".
TSF\audio\2023\09\noticias\27\maria_manuel_mota_3_ainda_nao_ha_casos
"O pior que pode acontecer numa situação destas é nós não nos apercebermos que isto está a acontecer e quando nos apercebermos está fora do controlo. Felizmente, temos um SNS e autoridades de saúde que estão preparadas para este tipo de situações e acho que reportarem isto e mostrarem que no caso dos mosquitos que foram capturados e testados não terem agentes infecciosos é só sinal de que as coisas estão a funcionar, defende. A cientista reforça, ainda que o "clima está a mudar" e, consequentemente, estas são situações para as quais é preciso preparação.
A diretora-executiva do Instituto de Medicina Molecular adianta que, se de facto a espécie evoluir, pode vir a ser necessário usar repelentes, mas descarta essa necessidade por enquanto.
TSF\audio\2023\09\noticias\27\maria_manuel_mota_4_individualmente
"Individualmente, devemos proteger-nos para não sermos picados por mosquitos. Claro que ainda não temos em quantidade suficiente para estarmos com repelentes, mas poderá vir a acontecer o dia em que nós temos de estar expostos o menos possível a estes mosquitos, adequarmos o nosso vestuário, colocarmos repelentes, mas não é o necessário agora, ainda", conclui.
A expansão da espécie Aedes albopictus tem sido notória no sul da Europa, "onde se tem vindo a instalar, nos últimos anos, em países como Itália, França e Espanha".
O mosquito Aedes albopictus é originário das florestas tropicais do Sudeste Asiático. Foi introduzido e disseminado, nos últimos 50 anos, em vários países, incluindo no centro e sul da Europa, em Espanha, França, Itália, Alemanha, Bélgica, Holanda, República Checa, Suíça e Balcãs e, desde 2017, em Portugal (Penafiel e na Região do Algarve).