Movimentos de cidadãos ganham importância em Portugal, mas falta "entender participação como serviço público"
Da luta contra o lítio e a crise na habitação à defesa dos sobreiros e jacarandás, por exemplo, os movimentos de cidadãos podem influenciar os políticos. O tema esteve em debate esta quarta-feira no Fórum TSF
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À margem da política, os movimentos de cidadãos ganham cada ver mais importância em Portugal, desde a habitação, ao ambiente ou à saúde e à defesa dos direitos dos mais velhos. No Fórum TSF desta quarta-feira, o consultor do banco mundial para a concretização do orçamento participativo, Nelson Dias, defende que os movimentos são um "serviço público à democracia", até porque a política tradicional já não é atrativa.
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"Estes movimentos emergem na sociedade portuguesa acontecem porque há falta de espaços de participação", considera Nelson Dias, acrescentando que "estamos longe de uma democracia de maior intensidade vivida no quotidiano e não só nas urnas, durante os períodos eleitorais".
"É também um sintoma de que nós ainda não fomos capazes de entender a participação pública como um serviço público (...) e de envolver os cidadãos enquanto coprodutores de serviço", defende.
No caso português, é conhecida a luta contra a exploração de lítio em Montalegre. Ouvido no Fórum TSF, o presidente da Associação Montalegre com Vida, Armando Pinto, sente que ainda não ouvidos "na totalidade", em termos políticos, mas há "uma aposta ganha" por terem conseguido já chamar as pessoas para o que passa na região.
Temo-nos rodeado das faculdades e técnicos especializados que têm alertado para a possível exploração de lítio nesta região, mas, apesar disso, continuamos ignorados pelo poder político.
No caso do ambiente, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, não tem dúvidas de que a luta dos cidadãos tem produzido resultados concretos e dá o exemplo da Reserva Natural do Estuário do Sado, "uma zona absolutamente crucial para a preservação da biodiversidade e redução da poluição".
As lutas também passam pelos aposentados, pensionistas e reformados. A responsável da Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos, Maria do Rosário Gama, afirma que têm sido ouvidos e recorre ao ano em que o Governo socialista só quis pagar metade do aumento do valor das pensões. Ainda assim, depois de reivindicarem, conseguiram vencer a luta.
