Movimentos de cidadãos mobilizam-se contra “investimentos predadores” e pelo acesso ao litoral entre Tróia e Melides
Reabrir a Galé é um dos movimentos que está a convocar a população para um protesto em defesa de um futuro mais sustentável. No próximo domingo, na partida e na chegada da Ultra Maratona Atlântica, entre Tróia e Melides, os movimentos vão sinalizar o que consideram também ser um atentado aos direitos das populações
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As restrições nos acessos às praias entre Tróia e Melides diminuíram depois da inspeção da Agência Portuguesa do Ambiente, mas muitos dos constrangimentos que impedem a população de chegar a algumas destas praias mantêm-se.
Para protestar contra o que classifica “investimentos predadores que condicionam o acesso ao litoral e arruínam a biodiversidade”, o Reabrir a Galé juntou-se a outros movimentos e associações e no próximo domingo vai protestar durante a Ultra Maratona Atlântica que se realiza precisamente entre Tróia e Melides.
Em declarações à TSF, Maria Prata, uma das fundadoras do movimento Reabrir a Galé, afirma que este “é um território que até há pouco tempo era considerado um dos mais bem preservados da Europa”, mas “a construção de resorts, a exclusividade para pessoas riquíssimas” está a tornar esta zona numa área de turismo de luxo com as consequências que isso acarreta, como a “destruição da biodiversidade e as dificuldades no acesso às praias”.
Maria Prata conta que não há transportes públicos que permitam que a população que vive em Grândola possa ir até às praias do concelho, o preço do barco é proibitivo e os acessos permanecem difíceis mesmo depois da intervenção da Agência Portuguesa do Ambiente, uma intervenção que lamenta só tenha acontecido depois de “uma quezília entre condomínios”, quando há muito que vários movimentos alertavam para esta questão.
“Do nosso ponto de vista, há muito que deveria ter sido assegurado não só o acesso em termos de estrada como em termos de parques de estacionamento público”, afirma.
O movimento Reabrir a Galé nasceu em 2021 para contestar o encerramento do parque de campismo — que permanece fechado depois de vendido a uma empresa norte-americana —, mas Maria Prata revela que depressa perceberam que a decisão tinha tudo a ver com o que se passa naquele território.
Em causa, defende, estão muitos problemas ambientais e sociais e a questão da imigração também se coloca: “A imigração das pessoas mais ricas a nível mundial que vêm comprar casas, que vêm habitar este território, mas também os imigrantes pobres que vêm servir estas pessoas. Tal como não queremos xenofobia perante as pessoas extremamente ricas, também questionamos aqui todas estas movimentações a nível de imigração em que as pessoas servem para vir trabalhar nestes grandes resorts, nos restaurantes, nas construções, mas sem direitos, sem direito ao reagrupamento familiar, sem acesso à saúde, à habitação.”
É também para isso que o movimento Reabrir a Galé em conjunto com outros movimentos e associações quer chamar a atenção no protesto marcado para domingo, altura em que vai ainda lamentar o facto de a riqueza que está a entrar para o território por via dos resorts de luxo não se traduza em investimento para melhorar a vida da população.