Hugo Costeira, que lidera o Observatório de Segurança Interna, aponta a crescente atenção às redes sociais e a velocidade de propagação do discurso de ódio na Internet como fatores que fazem "parecer preocupante" as ações destes grupos.
Corpo do artigo
O presidente do Observatório de Segurança Interna, Hugo Costeira, aponta que os movimentos de extrema-direita e de extrema-esquerda em Portugal são “um bocado amorfos” e “residuais”, mas causam maior preocupação porque "hoje em dia estamos todos muito mais atentos a estes fenómenos”.
Com vários movimentos de extrema-direita a fazerem circular nas redes sociais uma convocatória para um protesto “contra a islamização da Europa”, a realizar em Lisboa a 3 de fevereiro, Costeira aponta à TSF que toda a atenção “faz parecer preocupante” a ação destes grupos, mas entende que estes não têm “grande expressão”, embora também surjam associados a crimes.
"Do ponto de vista global são movimentos até um bocado amorfos. Quer da extrema-esquerda, quer da extrema-direita, são movimentos residuais e a que as nossas autoridades estão atentas”, garante, realçando a “cooperação internacional” das autoridades portuguesas "principalmente da inteligência”, dando o exemplo do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) e, “numa fase criminal, da Polícia Judiciária”.
O responsável defende, por isso, que "Portugal não atingiu um nível preocupante como outros países europeus já atingiram” e está confiante de que a manifestação do primeiro fim de semana de fevereiro – para a qual também já está a ser convocada uma contramanifestação - está a ser acompanhada devidamente pelas autoridades.
"Desde os serviços de informações de segurança até à PSP e GNR, estes movimentos estão relativamente bem estudados e estão bem percecionados”, assinala, sublinhando que o direito à manifestação é "constitucional dentro da legalidade e dentro daquilo que é o bom senso”.
"Portugal ao fim e ao cabo é um país livre, mas as nossas autoridades estarão atentas e estarão vigilantes até para proteger os demais, seja o cidadão comum, seja os visados nessas manifestações”, aponta.
Ainda assim, reconhece que "quando os extremos decidem confrontar-se, por norma nunca é nada de bom”, mas reforça a confiança nas forças de segurança, que estão "à altura e com um nível de empenho brilhante”, em especial porque a PSP “tem larga competência na manutenção da ordem pública”.
Já numa análise à forma como estas movimentações surgem das redes sociais, área com que trabalha, Hugo Costeira assinala que apesar de haver mecanismos que a monitorizam, "tem de haver também, do ponto de vista do utilizador, uma noção de que aquilo que está a ler deve ser verificado”, o que geralmente não acontece por parte de pessoas com "o intuito de publicar este género de informação”.
"Portanto, isso prolifera na internet com uma velocidade estonteante”, aponta, alertando para "as dimensões e o impacto que uma notícia falsa pode ter, o que é deveras preocupante”.
No X, antigo Twitter, páginas como Racismo Contra Europeus, Resistência Lusitana ou Grupo 1143 promovem o evento, que deve passar pelas “ruas com mais imigrantes do país, sobretudo de origem islâmica”: “Demonstrar aos traidores que nos governam desde o golpe de 1974, que existem portugueses que não querem alterar o seu modus vivendi, nem estão dispostos a sacrificarem mais mulheres no altar do multiculturalismo.”
Nas mesmas publicações, apontam que as comunidades imigrantes em questão "idolatram um profeta pedófilo, e praticam actos terroristas em toda a Europa”, pelo que “têm que sentir que não são bem-vindas”.
Um conjunto de ativistas antirracistas quer travar esta manifestação por considerar que é uma ameaça aos imigrantes e está a preparar-se para enviar uma carta aberta ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República, ao primeiro-ministro e a outros ministros. O Bloco de Esquerda também já pediu às autoridades que impeçam a ação de rua.