O atelier Nauvegar vai receber, em julho, um Fedrigoni Top Award pela conceção de um rótulo com três camadas de papel, para as garrafas de uma marca de vinho.
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Saiu da aldeia para estudar design na cidade, foi trabalhar para a capital e, um dia, ouviu o chamamento das raízes. Regressou à terra onde cresceu e criou um estúdio que acaba de ser premiado por uma das maiores empresas de papel especial do mundo.
Acedemos a Covas do Douro, no concelho de Sabrosa, curvando muito, ora para a esquerda, ora para a direita. Estrada estreita feita a partir do Pinhão (Alijó). A casa onde Gustavo Roseira, de 31 anos, criou o estúdio de design Nauvegar não tem placas à porta. Nem uma porta suspeita a dar para a rua onde bater. É mais fácil localizá-lo no Google Maps. Vem receber-nos à porta à hora combinada. Há redes de telemóvel que não dão. Melhor cumprir.
Entramos numa casa rústica típica do Douro, percorremos um corredor e vamos dar à sala onde Gustavo trabalha desde 2017. Uma secretária com um computador e um tablet, prateleiras e muitas garrafas de vinho decoradas com rótulos que ele e a equipa criaram. Equipa, sim, que começou sozinho e agora já são três.
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Gustavo Roseira conta à TSF que quando, aos 15 anos, começou a pensar no que queria ser quando fosse grande, sentenciou que "queria ver coisas novas" e sair de Covas do Douro, onde achava que "não se passava nada". Isto apesar de o pai ser produtor de vinho numa quinta naquela zona de Sabrosa.
Quando chegou a hora de ingressar no ensino superior, decidiu-se pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha. Depois foi para Lisboa fazer uma pós-graduação em 3D e por lá ficou a trabalhar, durante três anos, na zona do Chiado.
Foi então que, já com outra perceção do mundo, começou a acompanhar o pai a feiras de vinhos e, nelas, a "dar valor a coisas que antes não dava". Passou-lhe então pela cabeça o que poderia fazer para "juntar o vinho ao design".
Como mosto no lagar, "as ideias começaram a fermentar". Despediu-se do trabalho em Lisboa, regressou a Covas do Douro e começou do zero. Primeiro quis saber "como funcionavam o mercado do vinho e o design focado nele". A seguir nasceu o estúdio Nauvegar.
A verdade é que "nem tudo foram rosas", mas, com muito empenho e trabalho, passado pouco tempo, apareceu o primeiro cliente. O passa-a-palavra ajudou a que chegassem outros. "A coisa foi ficando séria e, neste momento, já trabalhamos três pessoas a tempo inteiro neste projeto", conta.
Passados quatro anos, Gustavo reconhece que não deu "o devido valor à tranquilidade e paz de espírito" que o Douro proporciona e que agora se revelam fundamentais para a criatividade que lhe sustenta o negócio.
Ora, foi um dos rótulos mais criativos elaborados até agora para um vinho, o "Quinta dos Montes - Parcela Nº 5", que lhe valeu estar entre os 21 finalistas deste ano do Fedrigoni Top Award. "É um rótulo com camadas de papel sobrepostas. A ideia foi fácil, mas passá-la à prática foi bastante demorado. Até para a gráfica foi um grande desafio".
No rótulo do "Quinta dos Montes - Parcela N.º 5" foi utilizado papel Tintoretto Gesso. O objetivo é comunicar, ao mesmo tempo, "as complexas texturas em camadas das cepas velhas e a sinuosa topografia das vinhas do Douro".
Neste momento, Gustavo já sabe que aquele é um dos seis premiados e que, em julho, vai viajar desde Covas do Douro até ao Museu do Design de Milão, em Itália, para receber o galardão. É "um orgulho", sobretudo pela coragem de ter criado o Nauvegar em Covas do Douro e não num grande centro urbano "onde tudo seria mais fácil".
O estúdio Desisto de Lisboa, com o projeto Big Kitchen em Identidade Corporativa, foi outro dos 21 finalistas Fedrigoni Top Award 2021. Houve 69 participações de Portugal.
A Fedrigoni é uma empresa fabricante de papel especial com mais de 125 anos, com sede em Itália e que está presente em mais de 80 países de todos os continentes. Produz e distribui papéis criativos, offset, estucados clássicos e cartolinas gráficas, entre outros.