Estudantes reconhecem que o álcool - em especial a cerveja - vendido a preços baixos na zona universitária tem contribuído para o aumento da criminalidade. Mas também o policiamento - que dizem ser insuficiente - tem culpas no cartório, apesar do projeto Universidade Segura.
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Na zona do Campo Grande, em Lisboa, quem paga o policiamento da zona é a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa... mas só até às 21h.
Desde que, a 28 de dezembro, um estudante foi vítima mortal de um esfaqueamento junto à faculdade, o policiamento na zona - onde circulam milhares de estudantes - foi reforçado. Além disso, a PSP tem a funcionar, no local, o programa Universidade Segura. Mas não tem sido suficiente.
A falta de efetivos na zona e a venda de bebidas alcoólicas baratas está a atrair focos de criminalidade. Um copo de cerveja de 20 cl. - a "imperial" ou "fino" - vende-se a 60 cêntimos e um "balde" de meio litro custa 1,20€.
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Quem o vende não tem problemas em reconhecer: "É muito barato, muito em conta." Este é o negócio mais rentável na zona à volta das faculdades, que durante o dia é ponto de encontro dos estudantes. É à noite que o cenário se complica.
"Acalmou agora devido aos assaltos que têm ocorrido, temos mais policiamento... Mas mais uma ou duas semanas isto acalma de novo e eles já não fazem patrulhamento", nota quem conhece o dia-a-dia da zona.
Por agora, nota-se que há mais polícia e menos estudantes, como conta uma aluna à TSF: "Eu costumava vir estudar para o [Centro Académico do] Caleidoscópio e agora não venho tantas vezes porque tenho um bocado de medo de vir para aqui à noite."
Outra voz, que se junta à conversa, reitera a ideia. "Já andamos aqui na Lusófona há dois anos e nunca sentimos desconforto, às vezes até temos atividades até mais tarde e sentimo-nos sempre protegidos. Agora, esta notícia, deixa-nos um bocado desconfortáveis", reconhecem as alunas, referindo-se ao crime ocorrido no final do ano de 2019.
Perante este clima de insegurança, estas alunas têm optado por ir "acompanhadas" para casa ou para o metro. Têm mesmo o cuidado de não andarem sozinhas.
Projeto com falta de efetivos
O projeto Universidade Segura surgiu em 2017 mas, lamenta o presidente da Associação de Estudantes, Eliezer Coutinho, a falta de efetivos não tem ajudado.
As forças policiais têm "uma relação de proximidade, tanto com as escolas como com as associações de estudantes, mas eles próprios não têm meios suficientes, precisavam de ser mais".
O representante dos estudantes também reconhece que "há muito consumo de cerveja" por pessoas "externas" à faculdade e ao Ensino Superior, explica. As consequências estão identificadas: um ambiente com mais "droga, alcoolismo e que causa desacatos".
A criminalidade na zona tem aumentado desde novembro, com "assaltos à mão armada, assaltos a carros e furtos". O episódio do estudante assassinado, lamenta, "foi o culminar" de tudo. Para Eliezer Coutinho, mais polícia e mais iluminação fariam toda a diferença.
Por agora, quem frequenta a zona tenta cuidar de si e dos outros. "Tentamos andar em grupos, não ir para o metro sozinhos ou então pedimos um Uber."
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O reforço de segurança nesta zona da cidade universitária, em Lisboa, é para já notório. Os três suspeitos do homicídio do estudante de 24 anos, dois deles menores, foram esta terça-feira presentes a um juiz e ficaram todos em prisão preventiva