"Muita imprevidência e desatenção." Sindicatos querem que Governo resolva falta de professores
Primeiro secretário-geral da Fenprof reconhece que a responsabilidade se divide por vários governos.
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Os sindicatos da educação reúnem-se esta quarta-feira com o novo ministro, pela primeira vez, num encontro que servirá para a apresentação da equipa de João Costa, mas acontece numa altura em que os sindicatos apontam a falta de professores como o principal problema que tem de ser resolvido. António Teodoro, o primeiro secretário-geral da Fenprof, professor universitário e com uma carreira de décadas ligada à educação, lamentou à TSF que se tenha chegado a esta situação e lembrou que não foi por falta de aviso.
"Fruto de muita imprevidência e de desatenção aos sinais e aos alertas que foram feitos em devido tempo por instituições como o Conselho Nacional de Educação e outros. O Governo de Passos Coelho considerou que havia professores a mais e que esta não era uma questão. Depois, os dois governos de António Costa mantiveram esse olhar, esse silêncio e só muito recentemente é que se aperceberam do buraco em que estavam e que já este ano letivo é bem visível", explicou à TSF António Teodoro.
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O primeiro secretário-geral da Fenprof considera que a responsabilidade se divide por vários governos. A carreira dos professores tem sido desvalorizada e não é atrativa para os mais novos.
O programa do Governo prevê alterações no regime de habilitações para a docência e o ministro da Educação, João Costa, já admitiu que há escolas que já estão a contratar professores em habilitações para dar aulas.
António Teodoro defende que há o risco de a pressa em resolver a falta de professores poder levar o Governo a esconder a realidade.
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"Há a tentação de resolver de forma expedita e mascarar as situações. A resolução do problema não passa por soluções de desvalorização inicial e contínua dos professores que só acentuarão a desqualificação e a desvalorização social da profissão. Reconhece-se que há medidas conjunturais que precisam de ser tomadas, mas essas medidas nunca podem pôr em causa o processo de valorização de uma profissão, sob pena de se acentuar a falta de procura e o respeito que a sociedade deve ter com a profissão de docente", disse o professor universitário.
O atual líder da Fenprof, Mário Nogueira, parte para o encontro com o ministro da Educação sem grande entusiasmo. Considera que uma reunião com todos não é forma de discutir os problemas.
"Não é numa reunião onde teremos intervenções que demorarão no mínimo uma hora que iremos discutir seja o que for. Esta é uma reunião claramente protocolar, a própria agenda dos trabalhos não prevê qualquer assunto concreto. Com tudo o que há para fazer e para solucionar é uma reunião dispensável", afirmou.
Mário Nogueira quer falar com o Governo sobre a vida dos professores.
"Quase que diríamos que o lema é: também tem de ser tempo dos professores. O sistema tem tido alguns resultados positivos a nível do insucesso, que tem vindo a reduzir, do abandono e medidas em torno das questões da inclusão. Temos agora a questão da recuperação de aprendizagens, que foram e continuam a ser bastante prejudicadas pela pandemia, mas os governos têm-se vindo a esquecer dos professores", atirou Mário Nogueira.
Já João Dias da Silva, da Federação Nacional de Educação, defende um crescimento do investimento na educação.
"Para que haja capacidade de resposta para os problemas que existem nas nossas escolas, melhorarmos as aprendizagens dos nossos alunos e respondermos aos efeitos da pandemia nas aprendizagens. Temos a seguir a preparação do ano letivo, em que precisamos que existam todos os professores, em que haja respeito pelos limites do tempo de trabalho dos professores, em que se acabe com a precariedade, para que existam trabalhadores não docentes em todas as escolas. Têm de haver recursos humanos em número suficiente nas nossas escolas e professores para todas as disciplinas", acrescentou João Dias da Silva.
Há cerca de um mês, a Pordata estimou que cerca de 100 mil alunos não tenham professor a, pelo menos, uma disciplina já em 2023.