É uma nova tendência que está a preocupar o Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão: há cada vez mais mulheres jovens entre os doentes e muitas são fumadoras passivas.
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Uma fotografia tirada com o telemóvel fez soar o alarme para Teresa Jesus.
Aproveitando uma consulta para tratar uma infecção urinária, Teresa mostrou a imagem que mostrava a expectoração "esquisita", com sangue, tirada dois dias antes. Atenta, a médica concentrou-se nos sinais preocupantes e, de imediato, encaminhou a paciente para o Hospital de Vila Franca de Xira. Teresa percebeu que "não era nada de bom" e os exames confirmaram os piores receios: "cancro (do pulmão) muito mau, agressivo, que sobe ao cérebro. Não havia grande esperança, era uma coisa remota, de me safar desta", recorda Teresa, hoje com 56 anos.
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Na altura, em 2018, Teresa fez "tudo a que tinha direito", quimioterapia e radioterapia, durante cerca de dez meses, e ainda profilaxia ao cérebro. Tempos duros, mas com momentos memoráveis, como a neta que lhe disse: "avó, estás linda", quando Teresa ficou sem cabelo. Ou como a filha entrou numa depressão, ou o filho desmaiou no trabalho, ou os "abracinhos" e aconchego da mãe. São "pequenas coisas, mas sem elas se calhar, eu não estaria aqui."
Teresa Jesus foi tratada no IPO de Lisboa, onde trabalha a pneumologista Carina Gaspar, do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão (GECP). A médica realça a preocupação com as novas tendências deste tipo de cancro. Por um lado, o aumento de mulheres jovens, entre os doentes; por outro, o facto de muitas dessas doentes serem fumadoras passivas.
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"Enquanto nos homens, a faixa etária de diagnóstico anda habitualmente, na casa dos 60-70 anos, nas mulheres temos assistido a uma tendência do diagnóstico ocorrer em idades menores. Há inclusivamente, uma tendência que nos preocupa, que é o aparecimento em mulheres bastante jovens. Há um estudo recente que mostrou que na faixa etária dos 30 aos 39 anos, a incidência do cancro do pulmão nas mulheres até já ultrapassa a dos homens."
Além disso, realça Carina Gaspar, "até metade das mulheres que desenvolvem cancro do pulmão são não fumadoras". Possíveis explicações? A exposição passiva ao fumo do tabaco, por exemplo, "esposas de grandes fumadores, exposição a lareiras, óleos de alta temperatura ou poluição ambiental".
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Carina Gaspar alerta que alguns médicos de família podem desvalorizar o risco de cancro no pulmão, pelo facto das mulheres não serem fumadoras. "É preciso conhecer os sintomas e fazer check-ups regulares, para que em grupos onde o índice de suspeição é tão baixo, (o cancro) não passe despercebido."
Quais são os sintomas?
Tosse com expectoração com sangue
Tosse que não passa ao fim de várias semanas
Pneumonias que não são resolvidas com antibióticos
Perda de peso e perda de apetite inexplicável
Carina Gaspar lembra que o tabagismo é o principal factor de risco evitável. "Não fumar de todo" é a mensagem que o GECP quer passar e nem o tabaco aquecido deve ser tolerado.
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Quando foi diagnosticada com cancro do pulmão, Teresa Jesus deixou de fumar no primeiro dia da quimioterapia, embora o vício fosse muito antigo. Começou a fumar aos 12 anos e chegava a um maço e meio por dia, mas nunca pensou que teria cancro. Continua a fazer análises no IPO de Lisboa, de três em três meses, e, às mulheres, deixa o apelo: "Caramba, vamos lá deixar a porcaria do cigarrinho, antes que venha a tal noticia que nos tira o chão. Somos mulheres, portanto, "bora lá, deixar o tabaco, ter cuidado e fazer um check-up anual."
O cancro do pulmão é o terceiro com maior incidência, depois do cancro da mama e colo-rectal, mas é aquele que mais mata em Portugal.
Em 2020, foram diagnosticados cerca de cinco mil novos doentes com cancro do pulmão.
A autora não escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico