Em Dia Internacional da Mulher, duas portuguesas relatam como se tornaram camionistas de veículos pesados, as discriminações que enfrentam diariamente até nas paragens obrigatórias durante as viagens de trabalho que fazem pelas estradas da Europa.
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Um contratempo foi a ignição para Daniela Oliveira, 36 anos, natural de Alcobaça, mudar de vida. Acabou por trocar o cabo dos pentes, escovas e secadores de cabelo, pelo cabo das mudanças de um camião e já lá vão 7 anos. Antes de partir para mais uma viagem ao centro da Europa relata à TSF que numa profissão dominada por homens, é pouco frequente cruzar-se com outras camionistas nas rotas que faz em trabalho.
Ambas confessam que não é fácil afirmarem-se numa profissão em que predominam os homens e o combate à discriminação de género é constante, quer pelos comentários que algumas vezes ouvem, quer até nos conteúdos ofensivos que chegam através das suas contas nas redes sociais.
Para além dos estereótipos, falam de outras lutas por melhores condições de trabalho, não nas empresas que as contrataram, mas rotas que fazem habitualmente pelas estradas de vários países europeus, nos sítios em que são obrigadas a pernoitar e que, muitas vezes, são estações de serviço, onde partilham lavabos com os homens, pois nem sequer são instalações com duche para mulheres.
A segurança é uma das suas principais preocupações. Apesar das ferramentas que existem, dizem, já apanharam sustos. Relatam tentativas de assaltos, abertura forçada de atrelados, para furto de matérias no seu interior e até episódios de perseguições. Mas revelam que o lado bom da profissão compensa este tipo de problemas. Falam em ordenados acima da média dos portugueses, sem revelar valores exatos, entre 2500 a 3000 euros/mês.
Para quem equacione entrar na profissão, alertam que é preciso saber lidar com a solidão, porque passam a maior parte do tempo sozinhas e apenas com a companhia do camião. Realçam o poder da autonomia que têm para gerir trabalho e tempo. Falam de experiências únicas num território vasto que percorrem desde a Polónia, à Alemanha, Itália, ou França, entre outros em que as paisagens apaixonam qualquer pessoa, adiantam, e são o antídoto para o stress. Para o regresso a casa, com mais saúde mental, depois de 6 dias de trabalho, 2 de folga e 45 horas de descanso semanais.
Neste dia internacional da mulher, estão de novo na estrada. Daniela está de partida de Pataias, onde vive, para um serviço até a França e Benelux e Diana atravessa Espanha, desde Barcelona, no regresso a casa para descanso. São sempre 48 horas reservadas para tarefas domésticas ou administrativas e apoio à família.
