Paulo Meirinhos estava à procura de novas sonoridades para introduzir na música da sua banda e descobriu-as com uma invenção criativa.
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Em Miranda do Douro há um músico-artesão que está a construir guitarras com latas de óleo antigas. A ideia foi retirada de outro mirandês que no século passado fazia instrumentos a partir de latas de café e estacas com ornamentos de latas de salsichas, a que chamava 'guitarros'.
Paulo Meirinhos é membro do grupo Galandum Galundaina e diz que tudo se deve à procura de novas sonoridades para introduzir na música que fazem. São latas de óleo de cinco litros, reaproveitadas para a gasolina da motosserra e anteriores ao 25 de Abril que estavam esquecidas na garagem da casa dos pais de Paulo Meirinhos. "Quando íamos cortar lenha tínhamos sempre a lata da gasolina para a motosserra que era a lata de óleo da Sacor (anterior Galp), do óleo Molygrafit. Peguei nessa lata para construir a guitarra.
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E também por lá há algumas da Repsol espanhola da mesma altura. O braço da guitarra vem de Braga, duma fábrica, mas é desenhado pelo músico-artesão, por causa do equilíbrio. Tudo isto teve uma inspiração. "A inspiração vem do "tio Lérias" da aldeia de Paradela. O nome dele era Francisco dos Reis Domingues. Foi muito gravado, a RTP fez vários documentários sobre ele, Michel Giacometti, o etólogo da Córsega também o gravou. Em 1972 foi condecorado pelo presidente da república (Américo Thomaz) porque era uma personagem muito avançada no tempo", salienta o músico do grupo Galandum Galundaina.
O tio Lérias de Paradela que declamava a bíblia em verso e fazia 'guitarros'. "Sim, o 'guitarro' que fazia com latas do café. Às vezes utilizava o braço de alguma guitarra mas a que eu encontrei e experimentei, que tem a filha dele, foi feita com uma estaca de um pastor. Além das latas grandes que utilizava, com cerca de dez quilos, colocava também latas de lado tipo latas das salsichas, redondas. São desenhos muito curiosos."
Mas o músico dos Galandum Galundaina não quer tanto a parte acústica deste seu 'guitarro' mas sim a elétrica. Por isso pôs, não um, nem dois mas sim três formas de captação elétrica na lata de óleo. "Estes 'guitarros' têm três sistemas de captação. Um de eletrificação de guitarras acústicas, outro piezoelétrico na própria guitarra e ainda outro eletromagnético que dá um som muito característico."
Este é o primeiro guitarro que Paulo Meirinhos fez mas já tem encomendas, "de uma amigo espanhol e outros que acharam as guitarras interessantes".
Este não é o primeiro instrumento feito pelo músico. Paulo Meirinhos já construiu e adaptou instrumentos medievais como o Rabel de três cordas ou o Pandeiro a partir de textos e figuras de Gil Vicente. O 'guitarro' já foi usado uma vez ao vivo, num concerto no Algarve pelo grupo Galandum Galundaina e entrará no próximo disco da banda mirandesa.