"Temos de mudar de vida." Maus hábitos alimentares e tabagismo podem "pôr em causa ganhos" no SNS
"Na esmagadora maioria dos casos as coisas funcionam bem" na saúde, considera Manuel Pizarro.
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Manuel Pizarro aponta a prevenção como uma das prioridades do Governo para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e alerta que hábitos nefastos para a saúde podem comprometer a sustentabilidade do SNS.
O Governo tem três prioridades para a saúde, afirma o ministro da Saúde em declarações no encerramento da 11.ª Conferência Sustentabilidade em Saúde, organizada pela TSF e DN em parceria com a AbbVie.
A primeira passa pela promoção da saúde: "Questões que resultam dos nossos comportamentos", prevenindo doenças como hipertensão arterial, diabetes, mas também a obesiade, o tabagismo e sedentarismo. "Se não mudarmos a forma de viver, estas ameaças vão pôr em causa os ganhos na saúde que conseguimos nas últimas décadas", alerta. "Temos mesmo de mudar de vida".
"Um cada três português adulto tem hipertensão arterial; um em cada nove portugueses adultos tem diabetes; um em cada seis portugueses adultos fumam, ao fim de tanta campanha contra o fumo do tabaco; metade dos portugueses adultos tem excesso de peso, uma em cada três crianças tem excesso de peso; os hábitos de sedentarismo fazem com que a preocupação com o custo dos combustíveis suplante sempre a preocupação com o custo das solas dos sapatos", enumera.
A segunda tem a ver com a melhoria do acesso. "Oferta gera procura, por isso temos de ver se estamos a fazer a oferta certa", sendo o excesso de afluência de pessoas à urgência o principal problema.
A terceira é a requalificação das infraestruturas e equipamentos, com investimento nos serviços e recursos humanos, que será possível em breve em muitos locais graças ao PRR, destaca o ministro.
É "essencial" a valorização das carreiras para os médicos, tal como o acesso a médico de família para os utentes, aponta Pizarro. "O SNS tem os braços abertos para os jovens profissionais", apela, apesar de o mercado de trabalho nesta área estar mais "competitivo".
Sobre os dados do Índice de Saúde Sustentável - estudo avalia a perceção dos portugueses relativamente à evolução do SNS na última década e expectativas para os próximos 10 anos -, Manuel Pizarro admite que "não são uma surpresa".
A perceção dos utentes quanto à evolução do Serviço Nacional de Saúde na última década é positiva, mas esta ideia não é acompanhada pelo julgamento que fazem dos tempos de espera para consultas, exames e urgências, que a maioria considera ter piorado.
"Um político que tem responsabilidade no SNS pode não estar feliz" com estes resultados, reconhece o ministro da Saúde.
Por outro lado, ressalva, só há notícias quando "as coisas correm menos bem", o que pode criar uma perceção enviesada: "na esmagadora maioria dos casos as coisas funcionam bem", considera Manuel Pizarro.
No caso da luta contra o cancro, por exemplo, o ministro da Saúde admite que Portugal está abaixo da média europeia na maioria dos casos, mas está "no top 5" no tratamento bem-sucedido de vários cancros.
"Claro que temos problemas, e temos de olhar para os problemas numa sociedade onde persiste uma grande desigualdade social", mas muitas pessoas não teriam capacidade financeira para aceder à saúde se não fosse o SNS, nota.
Sobre o preço dos medicamentos, Manuel Pizarro defende que é possível para a maioria dos doentes aceder a medicamentos a preços acessíveis, como os genéricos. "Isto tem de ser uma responsabilidade dividida": entre o Governo, na comparticipação, a indústria farmacêutica e os profissionais de saúde, na prescrição.
Manuel Pizarro considera a criação de uma direção-executiva do SNS "uma mudança estrutural muito relevante (...) embora represente, de algum modo, o regresso às origens", já que, quando foi criado, o SNS previa uma administração.