Na terra de "escrinheiros" o fim de semana foi de São Martinho, castanha e jeropiga
Em Vimioso a tradição ainda vive. Na terra dos "escrinheiros", a música tradicional acompanhou um "verão tímido", onde as castanhas deram o mote para se provar o vinho e a obrigatória jeropiga.
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Este fim de semana a aldeia de Vilar Seco, no concelho de Vimioso, distrito de Bragança, celebrou o São Martinho com uma mostra das colheitas de outono. Na terra dos "escrinheiros", a música tradicional acompanhou um "verão tímido", onde as castanhas deram o mote para se provar o vinho e a obrigatória jeropiga.
À medida que a música se vai fazendo de improviso logo apareceram as castanhas, à mão do presidente da junta, Manuel João. "Temos aqui 50 quilos. Se não chegarem, vamos buscar mais. A jeropiga está a chegar", diz com um sorriso malandro.
Enquanto não chega, José André relembra a receita bem antiga. "É o primeiro mosto que se tira das uvas antes de as pisar. Depois leva dois cântaros de vinho, um de aguardente, dois quilos de açúcar, e já está".
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Ao lado de uma grande fogueira está Ilídio Raposo, um assador de primeira que sabe tudo o que é preciso para ficarem bem. "Terem uma boa borralheira em baixo (risos) e depois puxá-las para cima e para baixo. Em seguida, são abafadas ali com umas folhas de couve ou nabiças para ficarem mais suavezinhas."
"É o melhor assador do distrito", dizem ao seu lado, para incentivar a assadura e apressar a chegada das castanhas assadas.
Em Vilar Seco, na aldeia do planalto mirandês, os habitantes são conhecidos como "escrinheiros" porque fazem escrinhos (cestos de silva e palha centeia). Foi com eles que tentaram ir à Lua muito antes dos Estados Unidos, conta Ilídio Delgado.
"Muito antes dos americanos. Amontoaram grande quantidade de escrinhos, e, quando já estavam a chegar perto da Lua, o homem que estava lá em cima a fazer a colocação gritou para o que estava em baixo dizendo: 'Já só falta um!'" Verificando que faltava a matéria-prima, ficaram todos atrapalhados sem saber o que fazer. Eis então que o cabo de polícia teve uma ideia genial: "Tiramos o de baixo e colocamos em cima. Foi com grande desilusão que os viram cair todos."
De pé está ali há dois anos a festa das colheitas e do verão de São Martinho, impulsionada pela junta e pela autarquia e também pela AEPGA, associação que protege o burro mirandês da qual faz parte o veterinário Miguel Nóvoa. "De ano para ano a festa tem vindo a aumentar e contamos com as pessoas, como os criadores com os produtores que é quem mais interessa para se fazer uma festa."
E fez-se com muita gente, tradição, música e castanhas. Os "escrinheiros" de Vilar Seco ajudaram, e bem, a molhar a palavra com vinho novo e jeropiga.