"Não é assim que se resolvem estes problemas." CDU vota contra o despejo de inquilinos envolvidos em tumultos

A vereadora da CDU na câmara de Loures Fernanda Santos considera que não faz qualquer sentido despejar das casas municipais quem participou nos recentes distúrbios na Área Metropolitana de Lisboa, depois do autarca socialista Ricardo Leão ter defendido o despejo “sem dó nem piedade” dos inquilinos.

A CDU foi a única força política da autarquia a votar contra a recomendação, que partiu do Chega. À TSF, a vereadora Fernanda Santos diz que esta medida representa uma injusta dupla sanção. 

“Se quem participou nesses distúrbios ou noutro ato ilícito qualquer, o que desde já condenamos com toda a veemência, tiver uma sanção judicial, não é justo que essa pessoa tenha novamente uma nova, uma dupla sanção, perdendo o seu direito à habitação, que é um direito constitucionalmente”, sublinha. 

A vereadora da CDU alerta que não seriam só os inquilinos envolvidos que poderiam sofrer com esta medida. “Temos também que ter em conta que, se essa pessoa for titular da habitação e tiver família, não é só essa pessoa que é discriminada e despejada, mas também toda a família. Estamos a falar muitas vezes de crianças em situações de vulnerabilidade social, com problemas de insucesso escolar e uma das melhores coisas que essas crianças podem ter é um espaço seu e que podem perdê-lo de um dia para o outro com todos os problemas que daí advêm”, afirma. 

Fernanda Santos não nota “diferenças” no ambiente do município desde a morte de Odair Moniz. "Tivemos um acontecimento com o autocarro incendiado em que o motorista da Carris ficou ferido e que causou também danos em viaturas particulares na zona. [Estas ocorrências] podem ter provocado, durante algum tempo, alguma sensação de insegurança. Mas, como residente do concelho de Loures, não noto diferenças significativas, em comparação a outras ocasiões e para outras situações." 

A vereadora não acredita que expulsar os inquilinos envolvidos nos tumultos vá trazer mais tranquilidade aos bairros. Pelo contrário, defende que se “trata de pôr ainda mais achas na fogueira”. “Não é assim que se resolvem certamente estes problemas. Estes problemas resolvem-se com o acompanhamento, resolvem-se com policiamento de proximidade e resolvem-se, sobretudo, fazendo justiça”, sublinha, lembrando que a morte de Odair Moniz ainda está em processo de averiguação.