O recado de Costa a Marcelo e o aviso sobre o novo aeroporto que é "teste à credibilidade" do PSD
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As "convicções" de António Costa "não mudam" consoante as circunstâncias e o ainda primeiro-ministro não deixa de acreditar na justiça mesmo quando "este ou aquele agente da justiça atue incorretamente". Em entrevista à CNN Portugal, António Costa volta a apontar o dedo a Marcelo sobre a marcação de eleições antecipadas (uma "avaliação errada") e avisa que a decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa é um "teste à credibilidade" do PSD.
Logo no arranque da entrevista, questionado sobre a proposta de Rui Rio para reformar a justiça, António Costa não mostra arrependimento por não ter aceitado o repto do antigo líder do PSD.
"As minhas convicções não mudam de acordo com as circunstâncias. A proposta de Rui Rio, do PSD, era uma proposta que passava por reduzir a autonomia do Ministério Público. Eu entendo que Portugal tem, a nossa democracia tem, uma enorme vantagem: temos uma justiça independente, temos um Ministério Público autónomo e em que ninguém está acima da lei. Como disse várias vezes, nem eu próprio estou acima da lei", diz.
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Costa reforça que "não é pelas circunstâncias terem mudado que muda a convicções", garantindo que "não é por este ou aquele agente da justiça poder agir incorretamente que deixa de crer no sistema de justiça".
O primeiro-ministro reafirma que está "magoado" e garante que foi o polémico parágrafo escrito por Lucília Gago que ditou a demissão do Governo. Mostra-se convicto, no entanto, que o processo acabará numa absolvição ou num arquivamento.
Eleições antecipadas? Costa avisa Marcelo que "somos julgados pelas nossas decisões"
Quanto à decisão de Marcelo Rebelo de Sousa por eleições antecipadas, para o primeiro-ministro, o Presidente "fez uma avaliação errada" e "devia ter poupado o país a uma crise política". Para 10 de março, o desejo é que saia "uma solução mais estável".
"Acho que o Presidente da República fez uma avaliação errada e só espero que das eleições do próximo dia 10 de março resulte uma situação mais estável do que aquela que tínhamos atualmente", afirma.
António Costa avisa, num recado para o Presidente da República, que "somos julgados pelas nossas decisões", numa altura em que os portugueses "desejam tudo, menos uma crise política". Marcelo devia, por isso, "ter feito tudo para que essa crise política fosse evitada".
O "apoquento" de Costa sobre a direita (e o regresso de Cavaco Silva)
A pensar nas eleições de 10 de março, António Costa vê Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro (tem "muita estima pelos dois") como melhores candidatos do que Luís Montenegro e deixa até um reparo à presença de Cavaco Silva no último congresso do PSD.
"O que a mim me impressiona é cada vez que ouço o líder do PSD falar sobre o futuro, só ouço palavras do passado e só vejo gente do passado. Isso é que me impressiona bastante. Como é que ao fim destes anos todos, o melhor que têm para dar de energia ao partido é ir buscar o professor Cavaco Silva para animar o PSD?", questiona.
Costa está, por isso, "bastante apoquentado sobre o futuro da dinâmica e da capacidade de alternativa democrática em Portugal" e mostra-se confiante na vitória do PS nas próximas eleições, que "é a solução estável".
A solução governativa nos Açores, com um acordo do PSD com o Chega, foi "uma barafunda" e mostra, na opinião de António Costa, "o que o PSD quer fazer a nível nacional".
Aeroporto: "teste à credibilidade" do PSD
Uma semana depois da apresentação do relatório preliminar da Comissão Técnica Independente (CTI) sobre o novo aeroporto de Lisboa, e após Luís Montenegro anunciar uma comissão de trabalho para tratar do tema, António Costa avisa que este será "um teste à credibilidade do PSD".
O ainda primeiro-ministro espera até que "o PSD não o desiluda", lembrando que Montenegro aceitou a metodologia para a CTI, já depois de o partido ter dado o dito por não dito ao longo de vários anos.
"Tenho a esperança de que o PSD não me desiluda. Agora, este é o grande teste à credibilidade do PSD", disse, lembrando todo o "historial" do partido, desde Alcochete a Montijo.
Costa "não se arrepende" de não ter decidido unilateralmente (como fez Pedro Nuno Santos), mas admite que tem inveja de a decisão ser tomada por um novo protagonista: "Raras vezes na minha vida política tive a oportunidade de decidir com tanta informação em cima da mesa".
O país que Costa "entrega" ao sucessor
Sobre o legado que deixa ao país, "as finanças públicas estão em ordem, sem cortar salários e pensões", naquela que é "a maior derrota da direita", mas os temas quentes da saúde e na educação também foram colocados em cima da mesa.
Costa conhece "bem as frustrações" dos professores, já que a sua mulher foi educadora de infância, e a recuperação do tempo de serviço "é um catalisador". Lembra, no entanto, que "pelo menos 80% dos professores progrediram já dois escalões" dada a ação do atual Governo.
E, a 10 de março, os portugueses terão de "fazer uma escolha". "Se há algo que me orgulha particularmente é que eu entrego neste momento um país onde os portugueses têm muito mais liberdade de escolha, porque um país que tem um excedente orçamental, permite aos portugueses escolherem se querem manter um excedente orçamental e pô-lo num fundo de reserva para um dia que tenhamos uma crise, podermos utilizar essa verba de reserva", acrescenta.
António Costa pediu a demissão a Marcelo Rebelo de Sousa a 7 de novembro, depois das buscas ao Palácio de São Bento que culminaram na Operação Influencer. Esta segunda-feira é o primeiro dia útil do Governo em gestão, depois de o Presidente da República ter dado seguimento ao decreto que cessa as funções do Executivo socialista.
Desde 2015 em funções como primeiro-ministro, e com três legislaturas pelo meio, António Costa completou apenas a primeira legislatura, de 2015 a 2019. Em 2021, o Governo caiu com o chumbo do Orçamento do Estado.
Notícia atualizada às 23h05
