A subida da temperatura das águas e a pesca por arrasto ameaçam as espécies no Atlântico. Mas ao contrário do Mar Vermelho onde já existe a primeira aldeia sub-aquática para próbióticos corais, em Portugal ainda estamos longe de conseguir tornar os corais mais resilientes, alerta investigadora.
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Apresentam uma paleta variada de cores: desde vermelhos, roxos a amarelos. Encontram-se ao longo de toda a costa portuguesa, e é possível vê-los a menos profundidade em Sesimbra e no Algarve. Podem viver dezenas de anos, mas crescem e reproduzem-se de forma muito lenta.
E apesar de não estarem a sofrer com o grave branqueamento registado nas últimas semanas na Grande Barreira de Coral da Austrália, são na mesma vulneráveis, e muitos não resistem às alterações climáticas e à pesca por arrasto.
“Há algumas razões para alarme, não só na costa portuguesa, mas no Atlântico Nordeste em geral, e principalmente no Mar Mediterrâneo, onde se encontram as florestas subaquáticas, os jardins de gorgónias, e os leques-do-mar. Estes corais também sofrem com as ondas de calor e já estão mais suscetíveis às doenças”, explica à TSF a professora do Instituto Superior Técnico, Tina-Keller Costa.
A bióloga alemã doutorada e residente em Portugal estuda a interação dos corais com os micro-organismos que habitam no mesmo ecossistema. Tem alguns trabalhos em curso com a Universidade de KAUST, na Arábia Saudita, no Mar Vermelho, e também em parceira com o Oceanário de Lisboa.
“Os corais (na costa portuguesa) sofrem por doença ou outros mecanismos ainda muito pouco estudados. E isto é algo que também estamos a tentar perceber na nossa investigação: o que é que lhes está a provocar doenças e como os podemos ajudar?”, explica.
Tina Keller-Costa alerta ainda para o risco da pesca por arrasto, que pode ferir os tecidos dos corais e deixá-los vulneráveis a infeções ou mesmo matá-los: “São animais que não se conseguem mexer, estão normalmente fixos numa rocha, ou mesmo no fundo do mar, e esta técnica de pesca em alta escala prejudica-os muito”.
No processo de branqueamento, os corais perdem a cor, deixando o esqueleto calcário visível através do tecido transparente.
“Sem micro-algas, os corais ficam sem alimento, passam fome, e ficam condenados à morte”. A boa notícia é que “há ainda hipótese de regeneração se a onda de calor não for muito prolongada”; não mais do que alguns dias até poucas semanas.
Os cientistas consideram urgente travar a subida da temperatura das águas dos oceanos. Mas enquanto esse objetivo não é alcançado, Tina Keller-Costa defende a necessidade de acelerar formas de mitigar os efeitos do aquecimento global e tornar os corais mais resilientes. Uma das técnicas para restaurar os recifes é a replantação no mar, como se faz com as florestas na terra.
“Basicamente, podemos até ajudar os ovos e os espermatozóides dos corais a encontrarem-se e a terem uma melhor reprodução. Criar pequenas larvas, que depois dão à luz pequenos corais bebés, num ambiente mais protegido, e depois replantá-los no mar”, adianta.
Está também em estudo criar corais mais resilientes às alterações climáticas porque os cientistas já sabem que há linhagens de corais que conseguem tolerar melhor os aumentos de temperatura das águas.
“Uma das metodologias mais recentes é baseada em intervenções que passam por modular os pequenos micro-organismos nos corais, ou seja, aplicar um probiótico. Como nós tomamos um iogurte para ajudar o nosso intestino a trabalhar bem, estamos a desenvolver técnicas para usar micro-organismos nativos dos corais, que são benéficos para os proteger.
Tina Keller-Costa adianta que “há muito investimento nesta área e com bons resultados”, nomeadamente no Mar Vermelho, onde os primeiros estudos publicados “estão a demonstrar efeitos positivos”. Mas em Portugal “ainda estamos muito longe, porque falta-nos muito conhecimento base”.
“Mesmo a nível laboratorial, não existem estudos com corais da costa portuguesa, mas já há estudos com os corais tropicais. No Mar Vermelho, existe a primeira aldeia subaquático para probióticos corais. Ali já se está a testar a eficácia e a segurança destes probióticos numa escala real. Tudo isto tem de ser testado: se os probióticos fazem bem aos corais, mas também não fazem mal a outros organismos que convivem com estas espécies no oceano. E depois, uma coisa é conseguir resultados em laboratório, num aquário ou num tanque, outra coisa é nos recifes no oceano”, conclui.