Associação dos Arqueólogos pede mais investimento público para melhorar as condições de trabalho e combater a "situação gravíssima" que se vive em Portugal.
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A Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP) reconhece a importância de fazer investigação arqueológica no Egito, mas defende que a prioridade deve ser a atribuição de mais meios para os arqueólogos trabalharem em Portugal.
Foi frente às pirâmides de Gizé que o Presidente da República desafiou os arqueólogos portugueses a trabalharem no Egito: "Portugal é dos poucos países que não tem ninguém no Egito a fazer trabalho arqueológico. Não pode ser, tem de mudar", disse Marcelo Rebelo de Sousa no segundo dia da visita oficial ao Egito.
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Questionado pela TSF sobre esta declaração do Chefe de Estado, o presidente da AAP, José Arnaud, começou por explicar que Portugal "não tem tradição" de realizar missões internacionais, ao contrário de outras antigas potências coloniais que, no passado, "criaram escolas e missões permanentes de arqueologia" para estudar os vestígios das grandes civilizações que se desenvolveram no médio oriente.
Nessa altura, "Portugal estava limitado à sua apagada e vil tristeza do regime salazarista e não participou nem teve ambição de desenvolver aquilo a que chamamos arqueologia colonial". Mesmo em relação às próprias ex-colónias, o país também "não teve qualquer interesse", acrescenta José Arnaud
O presidente da AAP acrescenta que o país tem "problemas gravíssimos" devido a uma "incapacidade extraordinária para gerir o riquíssimo património arqueológico que tem sido encontrado".
O arqueólogo dá o exemplo das zonas do Sabor e do Alqueva, onde "variadíssimas equipas" realizaram trabalhos de campo "por mais de uma década", mas cujos resultados "não são praticamente conhecidos da opinião pública".
Outra "situação gravíssima" é a da arqueologia subaquática, que "continua sem solução" para evoluir, especialmente ao nível de equipamentos. "Após muitas promessas, esbarra-se sempre no problema do défice e o ministério das Finanças não desbloqueia verbas dos outros ministérios", acusa o presidente da associação lembrando que o Museu Nacional de Arqueologia "continua há mais de uma década à espera de meios para para expor a sua coleção permanente".
"Se alguém quiser conhecer a evolução do povoamento do território português, não tem nenhum sitio onde possa fazê-lo de uma forma completa", explica o dirigente associativo para quem a falta de arqueólogos portugueses no Egito "é o menor problema da arqueologia portuguesa".