"Não faz muito sentido." Indústria conserveira lamenta elevado peso das importações
O primeiro Dia Nacional das Conservas de Peixe, assinalado esta quarta-feira, foi decretado no final do ano passado pela Assembleia da República.
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Já foram mais de 400 fábricas na indústria conserveira. Atualmente são 16. Esta indústria, que já foi uma das mais importantes do país, representa 600 milhões de euros na balança nacional, mas o presidente da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe, José Maria Freitas, lamenta que o peso das importações ainda seja elevado.
O primeiro Dia Nacional das Conservas de Peixe, assinalado esta quarta-feira, foi decretado no final do ano passado pela Assembleia da República. José Maria Freitas diz que esta data dá força e visibilidade ao setor.
"Lembra as pessoas de que existe uma indústria que hoje está limitada a 16 unidades, mas que já teve 400 que empregavam dezenas de milhares de pessoas. A indústria agora tem cerca de 3500 pessoas com emprego direto. Este setor, no global, representa cerca de 600 milhões de euros dos quais 350 são produção da indústria nacional, mas temos infelizmente ainda uma componente importante de importação que não faz muito sentido dado que existe uma indústria que é capaz de abastecer e suprir todas as necessidades das conservas", explicou à TSF José Maria Freitas.
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O presidente da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe aponta duas razões para justificar a importação: as cadeias de distribuição que procuram sobretudo fábricas espanholas e a escolha do consumidor, que é determinada pelo preço.
"As cadeias de distribuição não compram a fábricas portuguesas, compram fundamentalmente a fábricas espanholas. E também há aqui uma componente importante: 70% da decisão de compra dos consumidores é determinada pelo preço e isso também pode ser um dos fatores que levam estas cadeias a não comprar em Portugal. O que a indústria portuguesa tem feito nos últimos anos é exatamente tentar sair desta percentagem de consumidor que faz uma decisão de compra exclusivamente por preço e tentar chegar ao outro consumidor, aos outros 30% cuja decisão não é preço, é sustentabilidade e qualidade", afirmou o presidente da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe.
José Maria Freitas lamenta que a indústria conserveira não possa ter acesso a apoios à internacionalização.
"O nosso setor, sendo eminentemente exportador porque 70% do que produz é para exportarmos, não faz muito sentido que não possamos ter acesso a apoios e à internacionalização. Isso é uma queixa nossa que recorrentemente expomos porque um setor destes tinha de ser muito apoiado no que é a sua atividade principal, que é a exportação, aquilo que produz", queixa-se.
O aumento do custo de vida também está a ter um impacto negativo nas conservas e a procura tem sofrido uma quebra.
"Estes aumentos das matérias-primas obrigaram ao aumento do preço de algumas conservas, como por exemplo o azeite, que tem estado a preços nunca atingidos antes e que fizeram com que as conservas e o azeite tenham de sofrer aumentos. Isso tem causado um decréscimo de consumo em algumas conservas que, no ano de 2023, estão quase em 10% em termos de quantidade", contou José Maria Freitas.
Para contornar estes problemas, a Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe defende a criação de uma imagem que permita identificar facilmente o que é português. Já a Conserveira Portugal Norte, em Matosinhos, para festejar o primeiro Dia Nacional das Conservas de Peixe está a oferecer visitas gratuitas à fábrica com direito a degustação.
Rodrigo Souza, da Conserveira Portugal Norte, diz que é uma forma de homenagear quem trabalha neste setor.
"Finalmente temos um dia que homenageia esta nossa indústria que tem, como base, essencialmente mão-de-obra feminina e largamente exportadora para mostrarmos às pessoas as diferenças que a conserva portuguesa tem em comparação com as outras conservas e valorizar o nosso produto. Diferenciamo-nos pela nossa qualidade. Temos melhores ingredientes e melhor mão-de-obra, o que nos confere um produto de qualidade ímpar em comparação com as restantes", acrescentou Rodrigo Souza.
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