"Não há bóias que nos ajudem num tsunami. E temos um pela frente"
António Costa garante que o Governo não vai perder o controlo no combate ao novo coronavírus.
Corpo do artigo
António Costa não quer que se crie a ideia de que vamos "passar por isto sem dor". Em entrevista à TVI, o primeiro-ministro explica que quando se controlar a "primeira onda da pandemia os danos económicos vão prolongar-se".
"Não vale a pena termos a ilusão" de que a economia vai ficar imune, reforça Costa, que diz ser preciso chegar a maio para se poder olhar para o futuro com mais dados.
"Vamos aguentar até ao final de maio. Em junho teremos dados mais sólidos", lembra António Costa sobre as contas que virão. E superavit? Nem pensar, garante: "É absolutamente irrealista pensarmos que vamos ter superavit."
Sobre o futuro, o primeiro-ministro lamenta não ter uma "bola de cristal" para olhar já para setembro e lembra que teremos de viver mais um inverno ainda sem vacina, mas com o coronavírus. Mas, e porque não pode olhar para o futuro, fez questão de olhar para o passado recente, mais concretamente para o domingo passado, em que várias multidões se passearam ao sol.
"Não pode acontecer" o que aconteceu este domingo em zonas como a Póvoa de Varzim, refere o primeiro-ministro.
"Se for necessário impor um quadro sancionatório, imporemos", garante António Costa, que espera não ser necessário ter "um polícia à porta de cada prédio".
"Este é o momento para se baterem pelas empresas e pelos trabalhadores"
Sobre as medidas económicas de apoio ao emprego e às empresas, Costa explica que a autorização para a linha de crédito de 3 mil milhões de euros para as empresas chegou "ontem", com um spread entre 1% e 1,5%.
Quem recorrer a lay-off não pode fazer despedimentos coletivos nem extinção de postos de trabalho. Costa justifica a decisão de facilitar o lay-off com a tentativa de evitar um "aumento massivo do desemprego".
11969407
"Este é o momento dos empresários se baterem pelas suas empresas e pelos seus trabalhadores", apela o primeiro-ministro.
Sobre a mutualização da dívida europeia, Costa espera debates "duros" sobre o tema, mas vê bons sinais, incluindo a suspensão das metas orçamentais promovidas pela Comissão Europeia na última semana.
Questionado por Miguel Sousa Tavares sobre o quão assustado está a pandemia, o primeiro-ministro responde que não é momento para graduar o susto.
"Temos é de todos ter consciência daquilo que estamos a enfrentar, é por isso que tem sido notável a reação dos portugueses porque mesmo antes de ter sido decretado o estado de emergência já havia uma grande contenção. Tudo o que dissesse para diminuir a dimensão da emergência era um erro, mas também temos de ter calma suficiente para não entrar em pânico", explicou António Costa.
Costa revela que houve reforço dos profissionais de saúde
António Costa garante que não falta nada nos hospitais portugueses, nem para os doentes nem para os médicos. O primeiro-ministro revela que "houve um reforço de mil médicos e de 1800 enfermeiros. Relativamente às situações mais graves, no conjunto do SNS termos cerca de 1142 ventiladores e temos, neste momento, 47 pessoas na unidade de cuidados intensivos".
António Costa revela ainda que o Governo "adquiriu 500 ventiladores na China, que chegarão progressivamente até ao dia 14 de abril. Quanto ao número de camas temos já acordado com os privados a transferência de doentes e nas Forças Armadas temos cerca de duas mil camas disponíveis".
Na opinião de Costa, o Serviço Nacional de Saúde não atingirá um ponto de rotura. "Temos evitado um pico muito acentuado que poderia evitar uma rotura no sistema. Com a capacidade que temos neste momento, que está a ser reforçada, nunca perderemos o controlo da informação", afirma.
O primeiro-ministro lembra que há uma equipa de especialistas a acompanhar a pandemia em permanência e que o pico deve chegar a meio de abril. O objetivo é fazer com que a curva que representa o número de infetados não suba, mantendo-se muito nivelada.
"No pior dos cenários, com a capacidade que temos, nunca perderemos o controlo da situação", garante o primeiro-ministro. "Mais vale ter capacidade em excesso do que capacidade a menos."
Portugal vai adquirir 280 mil testes rápidos
Portugal tem condições para fazer dez mil testes no setor público e mil no setor privado. Estão ainda encomendados 280 mil testes rápidos "que chegarão nos próximos dias".
Há uma empresa portuguesa a produzir alguns destes testes. Sobre os protocolos clínicos a seguir, Costa recusa comentar.
"Os políticos têm de ter a humildade de acatar as opiniões técnicas", lembra Costa.
Costa lembra que os idosos estão submetidos a um "dever de proteção especial", que só deve ser quebrado em caso de grande necessidade, como comprar alimentos.
"No meu bairro, os restaurantes ou cafés que fecharam o serviço de mesa estão todos a fazer entregas para fora", observa Costa.
O primeiro-ministro saúda ainda as iniciativas das autarquias e das comunidades, que têm organizado estratégias de apoio aos idosos.
Reavaliação do fecho das escolas mantém-se a 9 de abril
O Governo vai estudar como pode ser feita a reabertura das escolas e estratégias de avaliação a implementar nas mesmas.
Entre elogios à comunidade educativa e escolar, Costa termina com uma mensagem de esperança.
"Nunca nenhum de nós viveu ou imaginou viver algo desta dimensão. Não há hecatombes destas que não tenham efeito", admite Costa.
"Espero poder voltar a abraçar e beijar pessoas", reconhece o primeiro-ministro, que sublinha que neste momento é preciso "sangue frio" e recusar o "egoísmo".
A Covid-19 já provocou a morte a 23 pessoas em Portugal, segundo o último boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde desta segunda-feira.
Nas últimas 24 horas foram confirmados 460 novos casos de contágio pelo novo coronavírus, elevando para 2060 o número de pessoas infetadas pela doença no país.
Portugal está em estado de emergência desde as 00h00 de quinta-feira. O decreto presidencial, assinado por Marcelo Rebelo de Sousa, foi votado na quarta-feira no Parlamento, já depois de ter recebido o apoio do Governo e do Conselho de Estado.
