Não há lugar para todos, faltam mesas e internet. Advogados admitem abandonar julgamento no Tribunal de Monsanto
Em declarações à TSF, Ricardo Sardo, um dos advogados envolvidos num processo que vai a julgamento na próxima segunda-feira, afirma que deu conta da falta de condições a várias entidades, nomeadamente ao Ministério da Justiça
Corpo do artigo
Vários advogados admitem abandonar o julgamento de um processo no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, por falta de condições de trabalho. O julgamento arrancou no dia 12 de maio com a identificação dos arguidos, mas a primeira sessão ficou por aí. O tribunal reconheceu que não havia condições para que o julgamento se realizasse em Monsanto, mas voltou atrás e agendou a segunda sessão para a próxima segunda-feira, dia 26 de maio.
O processo diz respeito a cartões bancários e a pessoas que se faziam passar por funcionários dos bancos. Há mais de cem arguidos e um número igual de juristas. Em declarações à TSF, Ricardo Sardo, um dos advogados envolvidos neste processo, assume-se pessimista quanto às condições de trabalho que vai encontrar.
"O que me foi transmitido ontem [quinta-feira] pela senhora administradora judiciária da comarca de Lisboa, apenas se garante que estarão reunidas as condições, no entanto, sem concretizar quais. Na minha interpretação ou reclamação, levantei várias questões concretas, condições concretas. Estamos a falar de mesas, ligações à eletricidade ou tomadas, ou extensões para ligar os computadores, a própria internet, nem sequer rede móvel temos dentro da sala, cadeiras minimamente confortáveis, porque muitos advogados estão na zona dos arguidos, em bancos corridos de madeira, com encosto também de madeira. Obviamente que isto é indigno, é uma afronta aos advogados", explica à TSF Ricardo Sardo.
O advogado deu conta da situação a várias entidades, nomeadamente ao Ministério da Justiça, e considera que cabe ao Estado encontrar uma solução alternativa.
"Compete ao Estado arranjar um local digno noutras comarcas. Ainda recentemente houve um megaprocesso, na Guarda, em que o tribunal não tinha condições para muita gente, nomeadamente para os advogados. Foi encontrado um armazém na zona industrial, montaram lá o tribunal, criaram as condições, a estrutura cívica dentro desse espaço, com mesas, microfones, o sistema de som e os advogados que lá participaram disseram que correu bem, sem problemas", conta, sublinhando que o Ministério da Justiça já deveria ter intervido.
Caso a situação se mantenha e o julgamento tenha mesmo de avançar no Tribunal de Monsanto, Ricardo Sardo acredita que muitos dos advogados vão recusar participar.
"Temos de verificar exatamente que condições é que foram disponibilizadas, eventualmente teremos de abandonar e recusar intervir no julgamento", assegura, acrescentando que os advogados irão "reagir em conformidade".