"Não há ninguém que não tenha gostado." Cada vez mais lisboetas aprendem a recuperar velhos móveis na Oficina Ripas
Durante três horas, a oficina Monstros transforma-se, graças a uma parceria com a Câmara Municipal de Lisboa que convida os munícipes a restaurar os "monos" deixados nas ruas da cidade
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São cada vez mais os lisboetas a participar no workshop da "Ripas", uma parceria entre a Oficina Monstros e a Câmara Municipal da capital. A poucos meses de celebrar quatro anos, em maio, a TSF foi ver como está a correr esta iniciativa, que ensina as pessoas a restaurar objetos em madeira.
"Temos muita procura, porque as pessoas têm gosto ou vontade e (mesmo quem nunca participou) curiosidade." A garantia é de Guida, dona da oficina, que é também responsável pelo workshop. Foi ela que começou este projeto, em maio de 2021, com o objetivo de dar nova vida aos chamados "monos": os móveis deixados na rua para a Câmara deitar fora.
"A ideia é trazerem de casa uma peça que lhes diga algo ou resgatarem alguma das que temos aqui, que são bastantes", explica. E para quem nunca experimentou nada nesta área: "Excelente! Vai começar agora! Não há ninguém que não tenha gostado", assegura Guida, com orgulho.
O processo é simples: primeiro analisa-se a peça e depois traça-se um plano, que passa sempre por dois caminhos possíveis, ou o restauro, "mantendo o que a peça era originalmente", ou a recuperação, que é como quem diz "transformá-la", esclarece Guida. A partir daqui as possibilidades multiplicam-se.
"Estufamos, montamos, desmontamos, colamos, tiramos folheado, pintamos, aprimoramos (...) fazemos de tudo um pouco!"
E para projetos mais demorados, os participantes no workshop podem sempre voltar uma segunda vez, mas a ideia é que cada um aprenda a trabalhar autonomamente, para depois concluir a peça em casa.
A dona da Monstros entende que, hoje em dia, as pessoas estão mais sensíveis à recuperação de velhos móveis.
"Quem anda na rua nota que há muito menos peças abandonadas, porque as pessoas as apanham e restauram, e dá gosto ver isso", confessa.
Guida acredita que os velhos móveis também são cada mais vistos como uma questão de identidade.
"Não é agradável ter alguém a jantar em casa e toda a gente perceber de onde são os móveis. É interessante adicionar algo que tenha mais personalidade e, desse ponto de vista, as peças antigas são inigualáveis", argumenta.
A tudo isto soma-se ainda a questão da memória, que foi, aliás, o que motivou Guida a criar a oficina.
"Os meus avós morreram e eu fiquei com um sótão cheio de peças e não consigo dá-las. É uma questão emocional", admite.
A oficina fica na Calçada da Boa Hora, em Lisboa, junto ao mercado e à Loja do Cidadão. A inscrição é feita por formulário, no site da Câmara Municipal de Lisboa, e o custo varia entre os cinco e os 20 euros, consoante os materiais que sejam necessários.
