"Não há qualquer justificação." Encostar "dezenas de pessoas" a uma parede no Martim Moniz "traz insegurança"
Filipa Bolotinha, dirigente da Associação Renovar a Mouraria, fala numa sensação de "regresso ao passado"
Corpo do artigo
A Associação Renovar a Mouraria condena a operação policial que decorreu na quinta-feira no Martim Moniz, em Lisboa, afirmando que esta ação "complica e baralha" a vida da população e "reforça que os problemas do território estão associados à imigração e isso não é verdade".
Para esta sexta-feira está marcada uma reunião de várias associações e coletivos que trabalham com imigrantes, para tomarem posição sobre a ação que decorreu na quinta-feira e que resultou na detenção de apenas duas pessoas.
A dirigente da Associação Renovar a Mouraria, Filipa Bolotinha, salienta que esta iniciativa foi uma discriminação desproporcionada e sem qualquer justificativa.
"Não há qualquer justificação para o que aconteceu ontem. É uma discriminação. A rua do Benformoso não é uma rua onde acontece crime, que é o que está no comunicado da PSP", defende, em declarações à TSF.
Filipa Bolotinha considera mesmo que o que aconteceu é até "confrangedor" e lamenta o cenário "muito triste" com que os moradores e trabalhadores daquele local se tiveram de deparar: "Parece que estamos a regressar ao passado."
A líder da associação adianta por isso o que deve ser emitido no comunicado de várias associações.
"A nossa ideia é mesmo que publicamente, por todas as vias possíveis, expressar aquilo que achamos que é um pouco quase um abuso de autoridade e que se expressa nomeadamente naquela imagem que depois já correu todas as televisões, que é dezenas de pessoas encostadas a uma parede a serem revistadas. Para mim, que vivo aqui, isto não me traz segurança. Antes, pelo contrário, traz-me insegurança", explica.
Argumenta ainda que a ação levada a cabo pela PSP "não respeita o Estado de Direito" e "complica e baralha" a vivência da população.
Apesar de reconhecer um "problema de higiene urbana" e uma "sensação de pequeno furto", Filipa Bolotinha garante que essa condição está ligada ao "aumento do consumo de droga". E faz questão de esclarecer que os crimes na Mouraria nada têm que ver com a população imigrante, sobretudo do subcontinente indiano, que são uma "comunidade super pacífica".
"Estão cá para trabalhar, para ganhar dinheiro, para mandar para a sua família. Eu vivo aqui e trabalho com estas pessoas todos os dias e posso afirmar isto e uma ação como a de ontem [quinta-feira] reforça que a criminalidade e os problemas do território estão associados à imigração e isso não é verdade", destaca.