"Não houve negociação de boa-fé." Fnam diz que consultas e cirurgias adiadas "chamam-se Ana Paula Martins e Luís Montenegro"
Sobre as medidas anunciadas pelo Governo, Joana Bordalo e Sá diz à TSF que "continua a haver uma falta de seriedade em todo o processo negocial conduzido por Ana Paula Martins e que deveria levar à aprovação desses documentos"
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A presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Joana Bordalo e Sá, acusa o Governo de intransigência e falta de seriedade na negociação coletiva com o setor da saúde e diz que "cada consulta e cada cirurgia" adiada na greve da Administração Pública tem os nomes de Ana Paula Martins e Luís Montenegro.
"Nós, médicos, fizemos duas greves e tivemos uma elevada adesão na ordem dos 80%, mas, acima de tudo, tivemos constrangimentos a nível de consultas nos centros de saúde, a nível hospitalar e nas cirurgias programadas. E, acima de tudo, cada cirurgia e cada consulta que foi adiada também tem dois nomes: chamam-se Ana Paula Martins e Luís Montenegro, que são os responsáveis por não terem travado a greve de hoje e continuam a ser responsáveis pela destruição que nós estamos a assistir em rampa deslizante no SNS", disse Joana Bordalo e Sá à TSF.
A líder da Fnam vai mais longe e diz que o Governo já tem o caminho definido: "Não querem investir no SNS, nos seus profissionais, nos seus médicos, estão a deixar a população cada vez mais a descoberto, ao mesmo tempo que nós vemos o setor privado a anunciar investimentos na ordem dos mil milhões, porque sabem que Luís Montenegro lhes dará retorno e esta é que está a ser a escolha deste Governo de Luís Montenegro, que Ana Paula Martins pura e simplesmente executa."
Questionada sobre as medidas anunciadas por Ana Paula Martins, como as urgências regionais, a comissão de combate à fraude no SNS e a regulamentação do trabalho à tarefa, Joana Bordalo e Sá acusa o Executivo de não negociar de boa-fé e de esconder documentos fundamentais na negociação coletiva
"Acima de tudo, o que nós temos a dizer é que tem havido e continua a haver uma falta de seriedade em todo o processo negocial conduzido por Ana Paula Martins e que deveria levar à aprovação desses documentos. Não houve uma negociação nem transparente, nem de boa-fé, e, em boa verdade, o ministério de Ana Paula Martins e o Governo de Luís Montenegro estão a omitir documentos fundamentais, nomeadamente esses diplomas que foram aprovados em Conselho de Ministros até antes de estar concluída a discussão com as estruturas sindicais. Portanto, continuam a esconder os documentos, nãos nos foram enviados os documentos finais, todo o articulado, apenas umas partes, e há também uma falta de clareza enorme nos próprios documentos", acusa.
Sobre a entrada em vigor das urgências regionais, medida que começa pela Península de Setúbal, a presidente da Fnam diz que os cidadãos vão continuar sem ter serviços de saúde de proximidade.
"Ao dizerem que vão encerrar definitivamente serviços de urgência como o do Barreiro e o de Setúbal para funcionar apenas em Almada, as grávidas e os bebés vão ficar sem cuidados de proximidade, vão continuar a correr quilómetros e quilómetros para terem os seus bebés e vamos continuar a ter estes partos nas ambulâncias, na berma da estrada ou até na rua, como aconteceu infelizmente este verão", lamenta.
Os Centros de Elevado Desempenho em Obstetrícia e Ginecologia também foram abordados por Joana Bordalo e Sá: "Também esconderam esse documento. Nós desconhecemos o documento na íntegra, portanto, revelando a má-fé negocial em cima da mesa. E é um documento muito pouco cuidado, com uma visão de gestão do trabalho em lógicas de produtividade em detrimento até da qualidade. Temos muitas dúvidas que estes centros de elevado desempenho primeiro que sejam implementados e depois que também sirvam mais uma vez a população."
